quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

imprensa vs crença: liberdade e litigância

O assunto é sério, e a palavra é: litigância, isto é, pretensão. Comprei a Folha desta quarta pensando na renúncia de Fidel, e descobri que a Folha de São Paulo mexeu no formigueiro da Igreja Universal do Reino de Deus, e agora está sendo atacada pelas formigas. Como o jornal é de circulação nacional, o pessoal apareceu de todo canto, todos ofendidos pelos mesmos motivos. Mas que motivos? Um negócio de dízimo em Paraísos Fiscais (bem que avisaram que o Paraíso existia!), e quem sofre é a repórter Elvira Lobato que foi quem cutucou, e agora tem que usar da física quântica para estar em vários lugares ao mesmo tempo, respondendo a uns aqui, outros ali, que são todos os mesmos, tristemente os mesmos (a nível de rebanho, diga-se de passagem). 56 ações judiciais por, se não me engano, danos morais, apareceram e, as que foram julgadas, como era de se esperar, perderam. E vão continuar perdendo, é claro. Mas o que interessa não é ganhar a causa em cima do jornal, é espernear, gritar, pro jornal ficar quieto, tipo a mãe que diz pro filho: tá bom, eu compro. E, já que gostam tanto da palavra fé, isso se chama má-fé, litigância de má-fé, que quer dizer, segundo a lei 5.869/1973 do Código Civil, gritar, espernear, não com essas palavras é claro. Enfim, os fiéis não estão preocupados com verdade dos fatos e tal, vão logo alegando danos morais. Só é considerado o lado emocional da coisa, o bom da religião é isso, pode tudo. O 2º item da nota divulgada pela Universal é "o dízimo é um aspecto da liberdade de crença consagrada pela Constituição Federal". Sim, o dízimo. Senão também pra quê que tinha crença, né? E livre! Sim, "livre livre livre que nem uma besta que nem uma coisa", diria Drummond, num poema entitulado, ironicamente, "Política". Tudo bem, livre, mas tão livre quanto a imprensa, ué. Por quê que o dele tem que ser maior que o meu, hein mãe? Porque ele é maior, oras! E se tratando da Universal, é um marmanjo, um homenzarrão, um troglodita, com mais de 5 milhões de cabeças em 170 países, segundo os próprios. Eles só não gostam que se lhes chame de "seita, bando ou facção", sabe como é, danos morais e tal. Mas imaginem se os ateus fossem na justiça cada vez que um rádio ou um folheto religioso dissesse que eles são seres imorais, possuídos por entidades malígnas, herdeiros do inferno? Ainda bem que não dá pra considerar estes elogios danos morais. É que todo religioso é muito sensível, frágil, vítima de constante preconceito. E para sorte de todos, os políticos também não são tão sensíveis a ponto de considerar um entortar de nariz um dano moral, caso contrário, haja litigância! O ministro carlos Ayres Britto sintetiza bem tudo isso quando afirma, segundo a reportagem de Silvana de Freitas, "que um dos papéis da imprensa é dar visibilidade ao poder. 'Não só o poder público, mas também o poder econômico, o religioso'". Ou seja, poder é poder, visibilidade é visibilidade, ninguém está tirando os fiéis à força da igreja, só está mostrando aonde o dinheiro vai, os fiéis deveriam se revoltar contra a própria igreja e não acobertá-la, porém, muito porém - e neste momento uma lágrima escorre em meu rosto - fiel é fiel, né.

5 comentários:

Giuliano Gimenez disse...

desculpe o trocadilho, mas fiel é fiel e o fidel?

mandou e arrasou, garoto, no texto.

Otávio disse...

falar do fidel seria muito redundante hehe

Anônimo disse...

vou levantar uma ação contra vc.

Giuliano Gimenez disse...

como cantava o saudoso raulzito:

É um sapato em cada pé
É direito de ser ateu
Ou de ter fé
Ter prato entupido de comida
Que você mais gosta
É ser carregado, ou carregar
Gente nas costas
Direito de ter riso e de prazer
E até direito de deixar
Jesus Sofrer
.
.
.

Otávio disse...

boa.

e, sobre o fidel, o tema foi tratado por muitos outros de maneira bem mais fidedigna. (e viva o trocadilho)