sábado, 16 de fevereiro de 2008

alienação não é um cachimbo: sobre o sexo

Bom, se é difícil dizer o que seja alienação, pelo menos podemos dizer o que não é, talvez. O discurso sociológico, como qualquer outro, pode enveredar por generalizações. Portanto, alienação não é um cachimbo, eu acho. Enquanto não entendemos Marx, Gramsci e Adorno, podemos nos contentar com a coleção Primeiros Passos, e um pouco de literatura. Vamos ao que interessa: sexo.
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"Trata-se do mesmo processo de alienação, agora atingindo o domínio das fantasias. A busca do prazer me constrói duplamente, enquanto o meu prazer me torna mais parecido comigo mesmo e, depois, porque a busca me impele ao outro, promove o encontro a cumplicidade. Quando as nossas fantasias são transformadas em mercadoria, elas nos destroem duplamente: inventam um outro homem dentro de mim, porque recriam o meu desejo à minha revelia, um outro sexo infiltrado em meus instintos e, além disso, me condenam a viver em busca obcecada de um prazer que não existe, não tenho e não terei porque é, já de partida, ilusão". (...) Condenado a realizar o animal que carrega em si pelo modo social de ser, o homem se encontra, enquanto ser biológico, quando nega o animal que é. Ao fazer do animal, no homem, um produto à venda no mercado, o capital rouba do sexo o gesto humano e entrega o animal à sua própria sorte, o exacerba ao mesmo tempo que retira dele os meios de realização, como um monstro sem face". (Wanderley Codo)
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"A ordem de beber Coca-Cola não corresponde de um certo modo a essa ordem de fazer amor, faça amor, faça amor! Cheguei um dia a ter uma miragem quando em lugar da garrafinha escorrendo água no anúncio, vi um fálus no fundo vermelho. Em ereção, espumejando no céu de fogo - horror, horror, nunca vi nenhum fálus, mas a gente não acaba mesmo fazendo associações desse tipo?... (...) Senhor Diretor: antes e acima de tudo, quero me apresentar, professora aposentada que sou. Paulista. Virgem. Fechou os olhos, virgem, virgem verdadeira, não é para escrever mas não seria um dado importante?... (...) E se por acaso o certo for isso mesmo que está aí? Esse gozo, essa alegria úmida nos corpos. Nas palavras. Esse arfar espumejante como o rio daquelas meninas, aquelas minhas alunas que eram como um rio... (...) E se o normal for o sexo contente da moça suspirando aí nessa poltrona - pois não seria para isso mesmo que foi feito? Virgem, Senhor Diretor. Que sei eu desse desejo que ferve desde a Bíblia, todos conhecendo e gerando e conhecendo e gerando..." (do conto Senhor Diretor de Lygia Fagundes Telles)
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E pra fechar, vale a leitura do conto O amor estampa as revistas, de Assionara Souza, publicado no livro Cecília não é um cachimbo, pela 7letras, de onde tirei inspiração para o título deste post.

5 comentários:

Giuliano Gimenez disse...

Se o texto de baixo saiu até uma punhetinha - e o desenho? - ao som de coltrane, este me parece ter saido do gozo pela voz de Chat Baker.

Giuliano Gimenez disse...

E mais um detalhe: você usa caminha em cada dedo pra não se lambuzar?

Otávio disse...

vcs estão m confundindo com meu pseudhomônimo eulírico gêmeo, vampiro lobisômico frustrado e super-herói-sem-nenhum-caráter-nem-poder pseudotavio. Mas como diria Erasmo Carlos, meu ídolo, a música e o orgasmo são as duas coisas q mais nos aproximam d Deus. um momento! minhas anteninhas na palma da mão estão detectando a presença de alienação sexual...

Assionara Souza disse...

rs!

vcs são duas vacas leitoras!
Incrível!
e onde a gente agradece o patrocínio.
Ei, meninos,
dia 19 na UFPR, inscrição para disciplinas isolada do mestrado. Vão lá no google - pós graduação ufpr, e caiam na página das disciplinas.
vcs não querem? - ah, ia ser bem divertido ser colega de oceis nas aulas do dot.
bjs
ótimos trechos, otávio. vou ler com mais cuidado.
bjs

Assionara Souza disse...

ih, tudo as concordãncia errada.
?
s
s
s
s
s
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s
s
...............................
oras!