quinta-feira, 10 de maio de 2007

Gilberto Dimenstein e outros nomes

para o mestre da crônica e do humor, Luis Fernando Veríssimo

A linguagem é a coisa mais arbitrária que existe. Por que não chamamos o vizinho de cadeira e a cadeira de Sebastião? Ariranha, por exemplo, parece algum tipo de aranha mutante (tenho a impressão de que alguém já disse isso). Talvez bem-te-vi e quero-quero sejam algumas das exceções. Se dizemos leite, pensamos no branco. Se banana flambada, numa coisa mole e viscosa. Frederico: um homem de nariz fino. Carolina: uma mulher de cabelo encaracolado, etc.
Há nomes que dispensam nomeados. Gilberto Dimenstein, por exemplo, só pelo nome já dá pra saber que o cara entende de política e economia. Millôr Fernandes e Jaguar, só podiam ser cartunistas. Bóris Casói, só podia ter aquela voz arrastada. Porém há nomes que não combinam. Quem já não pensou que Eça de Queiroz fosse uma mulher, irmã da Raquel, talvez? Dalton Trevisan? Deve ser algum pintor renascentista. Paulo Coelho? Um grande escritor, parceiro parnasiano do Olavo Bilac, não?
Os presidentes são outro fracasso, deviam criar um nome artístico quando eleitos. Médici, não era ele que era médico? Geisel, lembra alguma tecnologia, ligada ao petróleo, gás. Sarney é duplamente problemático, não combina com presidente nem com poeta, lembra sarna, dá até coceira. Costa e Silva, que pobreza! Com este nome devia ser no máximo vereador. Tipo: "Sabe o Silva? Vai distribuir boné no comício". Collor: parece marca de sabão em pó; de Mello: sabão líquido. E Itamar Franco? Isso mesmo, um galináceo, ainda mais com aquela cara que ele tinha.
Outra coisa que intriga é o palavreado mais popular. Estilo: do caralho, da bexiga. Imagine: "Comprei um barbeador do caralho que faz um barulho chato da bexiga". Já dá pra imaginar o cara nu na frente do espelho, depilando o pinto e ouvindo um barulhinho lá dentro. Mas um dos termos mais ingratos é incontestavelmente a cara-de-bunda. Pô, a gente tá ali curtindo uma tristeza camoniana, porque levou um fora ou morreu um vô da gente, vem uma patricinha com uma pinta enorme na bochecha, mascando cicletes e diz:
- Nossa, que cara-de-bunda!!! - dá vontade de enfiar uma calcinha na cabeça e sair correndo.

Otávio (lembra otário, fala a verdade)

2 comentários:

Giuliano Gimenez disse...

Sinceramente fantástico. A ironia tá afiada!
abraços

vrmart disse...

boa!.. hehhehe