sábado, 8 de agosto de 2009

teoria da conspiração: gripe a em curitiba

O Caderno G ideias da Gazeta do Povo desse sábado traz toda uma analogia histórica e literária da nova gripe, comparando-a à gripe espanhola de 1918 e à peste negra da idade média, em mais uma tentativa de afastar as teorias conspiratórias que circulam nos e-mails. De fato, desde quinta-feira sem ler os e-mails, encontrei hoje dois de caráter alarmista na caixa de entrada e, se eu tivesse mais contatos, esse número certamente seria maior. A suspeita de que a imprensa estaria omitindo os casos de morte e etc. me fez lembrar de um artigo de Antonio Cicero sobre o argumento da astúcia do diabo, segundo o qual a maior astúcia deste seria provar que ele, o diabo, não existe, o que viria apenas a confirmar a existência do mesmo. Assim me parece que quanto mais a mídia tenta se justificar dizendo que não está ocultando os números e tal, mais as pessoas torcem o nariz diante da tv e apontam o dedo dizendo: tá vendo! tá vendo! ainda têm a coragem de negar! Esses dias fui na Livraria do Chaim comprar o presente do dia dos pais e um cara estava saindo com um suspiro: é... o jeito é se cuidar! o pessoal aí não tá divulgando mas a coisa tá feia mesmo... O jornal, entretanto, não pôde e nem poderia ignorar solenemente tudo isso e partiu logo pra entrevistas com psiquiatras, historiadores, sociólogos e especialistas do tipo. Quem é hipocondríaco e tem mania de limpeza vai pirar de vez, mas o melhor de tudo são as referências literárias. A reportagem de Anna Simas começa com uma citação d'A Peste, de Albert Camus: "Sei que ainda é preciso vigiar-se sem descanso para não ser levado, num minuto de distração, a respirar para a cara do outro e transmitir a infecção" e, após uma incursão por obras como Ensaio sobre a Cegueira de Saramago e O Mez da Grippe de Valêncio Xavier, a reportagem de Luciana Romagnolli retoma o escritor argelino: "Existencialista francês como Sartre, com quem rompeu por questões políticas, Camus discutiu no romance A Peste a apatia humana cultivada no cotidiano e só destituída provisoriamente em atmosferas de alerta, como na história da cidade que se atemoriza quando ratos ensanguentados emergem dos subterrâneos prenunciando a agonia que atingirá os moradores, obrigando-os a se confrontar com a precariedade de suas vidas". Apesar de Camus não ser existencialista e muito menos francês, achei super-oportuna a lembrança. É bem isso! Quer a situação seja de pânico, quer não, uma coisa é inegável: ela nos arranca da apatia cotidiana e, assim mais ou menos como uma copa do mundo, nos deixa a todos num certo clima de cumplicidade, transcendendo os problemas pessoais de cada um e os desafetos de cada um para redirecioná-los, problemas e desafetos, a esse grande inimigo em comum: um vírus metade gente, metade porco, metade frango, ou seja, um vírus que, a depeito de toda matemática, tem três metades! Agora, se o problema é sério ou não, não tenho a menor autoridade pra me pronunciar, sei que não estou nem um pouco paranóico. Parece que há a possibilidade de ser decretada calamidade pública e aí adeus volta às aulas. O jeito é pegar um desses romances aí de cima e ficar lendo...

6 comentários:

Giuliano Gimenez disse...

por falar em diabo.
mas creio que nem certos alarmes como este que estamos sofrendo me tira da apatia, visto que a cidade já me engoliu.

Carolina disse...

Gostei da sua análise sobre a gripe! Ah, odeio essas entrevistas quando as pessoas erram as nacionalidades, etc... e na sala de aula? Uma vez na aula de Teoria de Estado (em Direito), o prof. da disciplina levou um estagiário para falar sobre Rousseau e o menino começou falando que o filósofo era francês!!! E como eu sento bem na frente, na hora eu falei... "É suíço!!!" rs Fora as outras mil bobagens que o menino falou... acho que até hoje ele deve sentir uma pontinha de raiva de mim...ah, depois te conto melhor essa hist...
Gostei da parte que vc falou sobre ler um romance... tenho uma ideia melhor! Melhor viver um romance no meio de tudo isso, imagina? No meio de toda essa "guerra biológica", o mundo morrendo, em pânico...e você vivendo um romance...ahuahuahuahu aiai...
Tô afim de viver um romance... quer ser o mocinho da minha história, do meu romance? rss

Entre no msn hj a noite pra gente conversar? ;) saudades...

Beijos!


Ah, coloco o acaso entre aspas pq pra mim ele não existe de fato..hauahhuahuahuahu

Confesso que como sou histéria e hipocondríaca acabei ficando surtadinha com a tal gripe... (me salva?! rs)

Carolina disse...

*histérica.

rs

ah, e por falar em romance...esses dias fui na casa de uma amiga e quando cheguei lá ela estava vendo o filme "Ghost"...aí lembrei de vc por causa do Patrick Swayze! huahauhauahuahauahuahausa


=P

Iriene Borges disse...

Eu não terminei de ler A peste!!! Fim de semestre nãod eu tempo. Boa Pedida. Também me recuso à acatar ESSA paranóia.

Beijo

Otávio disse...

hahaha, gostei do ESSA paranóia!

Felipe Martynetz disse...

"Um escritor trabalhando está, contínua e inescapavelmente, na presença de si mesmo. Não há nada para entretê-lo ou consolá-lo. Toda vez que um pensamento vadio o invade, pega-o instantaneamente pela orelha, e toda vez que uma câimbra desce a sua perna, sacode-o como a mordida de um tigre. Estou para conhecer um escritor que não seja hipocondríaco. Com exceção dos médicos, que estão sempre doentes e com medo de morrer, os literati são talvez os mais pródigos consumidores de pílulas e remédios do mundo, assim como os mais assíduos fregueses dos cirurgiões."