É estranho estar acordado na escuridão. É como estar consciente sem saber do quê. A lâmpada fluorescente é como se fosse a lua, e o interruptor a primeira estrela no céu. Dizem que, quando vemos uma estrela no céu, às vezes ela não está lá. É que ela fica tão longe, mas tão longe, que a luz leva alguns milhares de anos pra chegar aqui. Se todas as pessoas, quando ficassem deprimidas, pensassem que as estrelas podem nos pregar esta peça, talvez deixassem escapar um sorriso, nem que fosse o riso frio dos que riem só pra mostrar que entenderam o raciocínio, mas ririam assim pra si mesmas, como quem raciocina sozinho, ao ler um texto, por exemplo.
Ler um texto é sempre muito solitário, sobretudo quando se vê, pelo reflexo da janela no seu monitor, que constroem muros do outro lado da rua. Mas, cá entre nós, que sabem eles das estrelas? É uma questão de lembrar que uma estrela existe, mesmo que esteja bem longe, e que ela pode brilhar, mesmo que não exista. Sim, porque as estrelas têm o humor que só os suicidas sabem ter, os suicidas que deixam sobre a mesa apenas um bilhete engordurado dizendo "fui", talvez "adeus" e quem sabe até "I love you, I love you, I love you".
E o leitor que não ria: sofresse da insônia que eu sofro, também transformaria seu quarto num planetário, onde há apenas a lua e uma estrela, que não existe. Mesmo que descobrisse depois, num artigo de Astronomia, que era tudo mentira. Afinal, que sabem os astrônomos das estrelas? Talvez eu ainda possa contar esta história num desses muitos momentos da vida em que nos falta assunto. Quero dizer, não quando se está conversando e a conversa esfria, digo quando nos falta assunto a nós mesmos, quando se está sozinho no escuro, às três da manhã, e não há mais nada pra pensar.
O telefone está cortado, ninguém irá ligar e dizer: "eu sabia que você estava acordado, eu também estava..." Não, o telefone já não pode inspirar mais esperança que uma lâmpada fluorescente. Logo mais, às quatro horas, o jornaleiro virá de moto e eu ouvirei o som do jornal caindo no chão, e o barulho da moto irá diminuindo, diminuindo, até sumir. E eu finalmente fecharei os olhos, devagar, e pegarei carona com o jornaleiro. E iremos, então, até o infinito.
The uninhabitable earth
Há 2 horas
13 comentários:
AAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!! Dá esse texto pra mim? Posso te repetir no pinpolhices? Deixa? Deixaaaaaaaaaa!!!!! Eu não disse que você sempre me encanta? To aqui concordando com cada virgula sua... que lindo, você! Vou esperar resposta. ;o)
Ligia, pode sim..;)
belo texto!
acho que talvez você gostasse dos textos de um amigo, o drigo, que tem "alma curitibana" apesar de ser carioca... rs
o blog dele é:
http://entimesmado.blogspot.com
beijos
Vai na 4a ou 5a feira, ta?
Bigadão!!!
Seu texto me lembrou de um trecho do livro "Incidente em Antares", em que uma senhora esquece das conversinhas comezinhas da cidade pequena por ficar observando os astros.
Uma vez, com meu penúltimo namorado, eu contei esse fato de q as estrelas que vemos podem ter se apagado. Ele achou superromântico da minha parte, hehehe.
Um conselho: se vc realmente sofrer de insônia, dê aulas à noite e tome remédios p dormir. É a melhor coisa.
Um beijo.
o pior lugar pra ficar pensando
é a cama
giulianoquase.
Meu Deus... ao leu este texto vi-me a mim mesma... passo as noites acordada, a pensar em como é a vida quando todos descansam, quando a escuridão nos inunda e eu...bem, eu continuo acordada a olhar o céu...
Beijo grande! Adorei...
puxa, q legal, Carla!
obrigado pelo carinho
eu odeio lampadas fluorescente...... me lembram hospital, recepção de clínica... elas mostram demais.... mostram tudo... é uma merda... elas mostram até dentro... o que vo~cê nem sempre quer ver... Bom passar aqui e receber de presente esse texto teu... lembre-se que bom que suicidios e bilhetes engordurados podem ser sempre adiados...rs... beijos
eu gosto de lâmpadas fluorescentes, são econômicas..rs
Que lindo seu texto...senti tanta sinceridade, tanta verdade nele...Realmente me tocou, aliás, seu blog me tocou!
Está convidado a passar no bloco, ok?
Um beijo.
Engraçado pensar que, na coisa lírica do lírico, a estrela é uma das poucas que sobrevive a individualidade. Como se o seu objeto vai além dele mesmo... rs
A estrela não cala.. nem consente. Ela brilha.
Tal qual o grito de um lírico?
mas que coisa... eu também sou insone.
nunca, nunca tome remédios pra dormir. nem mesmo quando descobrir de verdade se a estrela não existe.
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