The loneliness of the dying
Há 7 horas
— A minha história? — exclamei, assustado. — A minha história? Mas quem lhe disse que eu tinha uma história? Eu não tenho história... (trecho de "Noites Brancas" de Dostoievski)
"Quando escrevi 'bilhete'*, do livro 'sol sem pálpebras', por sinal o último poema do livro, algumas pessoas (basicamente as pouquíssimas que leram o livro) acharam que eu estava meio que anunciando um suicídio. Pode ser, é uma possibilidade. Há sempre em nós alguém que anuncia um suicídio".
Há quanto tempo tudo deixou de fazer sentido? Há quanto tempo é tão difícil levantar de manhã? Você se senta sobre a cama e olha os pés, o sol entra pela janela, você está só no seu quarto, com todos os seus anos de idade, não importa o que você fez ao longo desses anos: eles passaram. Não importam os prêmios que você ganhou: você está só, e o sol bate em seu corpo. Quem lhe deu os parabéns entrou no carro sorrindo e se esqueceu de você. Você sempre esteve só, e você sabe disso. Outros virão, apertarão a sua mão, mas na manhã seguinte o sol baterá de novo em sua cara. Há quanto tempo tudo perdeu o sentido? E no entanto você anda pelas ruas, e no entanto você entra nas bibliotecas, e sai das bibliotecas, e toma sempre aquele ônibus. E no entanto você entra sozinho nos cinemas, e sai sozinho: e as ruas já estão escuras. E você sabe que na manhã seguinte a luz do sol arderá de novo em seu rosto. E você tapará o rosto com as mãos, porque não haverá nada mais a fazer a não ser tapar o rosto com as mãos.