domingo, 19 de agosto de 2007

amor-próprio

Só há uma janela acesa em todo prédio e do varal pende uma camiseta com a estampa “eu me amo”. Dentro do apartamento, às duas da manhã, ela não consegue dormir, seu corpo se agita sobre a cama, os carros fazem algum barulho lá fora. Entediada, como não houvesse mais o que pensar, quase instintivamente, coloca a mão dentro da calcinha e começa a massagear o clitóris. Ao primeiro sinal de excitação, afasta a calcinha até os joelhos, se põe numa posição de parto. Os pés espalmados no lençol, os olhos apertados. Com a coberta levantada, sente um vento passar pelas coxas. Seu corpo quente se arrepia e, num espasmo, a calcinha escapa dos joelhos e escorrega até as canelas. Seu pescoço se distende para trás, comprimindo o travesseiro com a cabeça. Ela goza, sente-se em paz, lembra do filme que assistira de tarde, pensa no trabalho do dia seguinte, e dorme: nua e egoísta.

3 comentários:

Giuliano Gimenez disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Giuliano Gimenez disse...

boa! o problema dessa narrativa mais detalhada na calma é encontrar o ritmo e as palavras certeiras.

gostei do final. ele diz tudo, é quase um hai-kai. sacanagem, né?

Otávio disse...

é que esse texto é antigo