No terminal guadalupe, um menino joga bombinhas nas pombas:
- Ah, essa faiô - fala ao seu pai, que está atrás de mim na fila do ônibus.
Na minha frente, uma mulher atende o celular:
- Sei quem é não. Não, não sei quem é.
O ônibus chega e, no andar da fila, passo pelo cego da esmola e o fito bem nos olhos, brancos e entrecerrados, que parecem se desviar dos meus.
Entro. No banco da frente uma senhora diz para o filho que resmunga:
- Vai começar, brancão? Vai começar, brancão?
Passo a catraca, sento no fundo, de costas, um rapaz senta ao meu lado mas logo dá o lugar para a mulher com criança.
- Senta, filha - diz ela, todos olham.
- Vem no colo da mãe - arrisca.
A menina, de uns quatro anos, troveja como um deus em furia.
- Então fica sentadinha - aquiesce a mãe.
A menina esperneia que lhe compre um doce, que lhe amarre o tenis e, afinal, que a mãe se sente. A mulher acomoda o corpo gordo ao meu lado, mas o ônibus já chegou ao ponto final.
A menininha, agora no colo, se agarra ao ferro na frente, peço licença para descer.
- Tira a mão pro papai passar, larga pro papai passar.
"Papai", pensei, e tive vontade de rir.
(Otávio, no ônibus)
The uninhabitable earth
Há 2 horas
Um comentário:
A crônica está uma delícia. o final do papai foi único.
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