sábado, 6 de abril de 2013

Desencontro

Daniela esteve aqui hoje, procurando por mim. A dona da casa lhe disse que eu não estava, mas que ela podia esperar no meu quarto, se quisesse. Ela esperou por quinze minutos. Tentei ligar, mas o número não existia. Sentei na cama, pensei: ela deve ter sentado aqui. Imaginei seu campo de visão. As mãos metidas entre as coxas. Ao lado da cama, um livro vagabundo, um best-seller. Meu mau gosto, pensei, meu mau gosto terá sido um sinal de que me resta algo de humano. Sobre a cômoda, a nota fiscal do restaurante que frequento. Bem se vê que não sou pessoa de luxo. Nenhuma revista pornográfica nas prateleiras. Melhor assim: a imagem de um homem se masturbando, segurando a folha que o vento ameaça virar, não é das melhores. As roupas jogadas no chão terão sido um sinal de um certo desleixo, de um homem que tem coisas mais importantes pra pensar. Os analgésicos, os calmantes, os anti-histamínicos. Gostaria de ter explicado que os anti-depressivos são temporários. Daniela deve ter achado que minha vida é difícil. Não deixa de ser. Olho no relógio, passou-se quase uma hora. Uma hora é bem mais que quinze minutos. Daniela não quis deixar recado. Mas percebo que ela entreabriu a janela. Deve ter sido isso. Percebeu que o mundo lá fora é muito maior.

(28/03/2013)