domingo, 2 de setembro de 2007

Deus-lobo é encontrado vivo

"Nunca diga: isto é natural" - Bertold Brecht


O ateísmo não só é algo natural, em minha opinião, como talvez uma das coisas mais naturais do ser-humano, ao contrário do que reza a tradição que, como Montaigne e Pascal, afirma: ateísmo é uma concepção monstruosa e anti-natural. Monstruosa pode até ser, pois lança o mundo ao seu relativismo intrínseco, ao seu pode-tudo. Por isso Voltaire afirma (no dicionário filosófico) que, do ponto de vista político, o ateísmo é inviável. E Dürkheim (segundo Rubem Alves em "O que é religião") que a religião é a base da sociedade. Como se o ateu fosse necessariamente mau, como se a idéia de bem só existisse na idéia de Deus.
Monstruoso ou não, não vem ao caso agora, mas anti-natural!? O que leva um homem a crer em Deus senão o fato de seus pais o crerem? Nada mais artificial do que Deus. Se tivéssemos que descobrir Deus por nós mesmos, será que seria assim tão fácil, tão natural? OK. Tomemos o racional do homem como o natural. Se alguém, que não tenha pais crentes, recebe a versão do Gênesis e a versão de Darwin. Qual convence mais? A Bíblia trata de Deus como se Ele já existisse. Ora, Cervantes também trata de Dom Quixote como se este existisse. O que a Bíblia faz é dizer QUEM ou O QUE é Deus (bom, sábio etc.) e não QUE ele é, isto é, que Ele existe. Disso se ocuparam Santo Anselmo e Descartes, entre outros. A própria palavra Javé (aquele que é) é uma petição de princípio.
Os ateus, por sua vez, também caem na aporia de partir do pressuposto de que Deus não existe, como Marx e Nietzsche fizeram. Portanto a filosofia não é menos artificial que a religião. Cabe, então, deixar o artificial de lado e debruçar-se sobre a mãe natureza.
Não podemos dizer que o homem, ao contrário dos animais, é NATURALMENTE levado a ter religião. Mas sim que o homem NATURALMENTE prevê, ao contrário dos animais, a sua morte. o animal não sabe que vai morrer, o homem sabe. Esta é a diferença. A partir desta diferença é que o homem crê ou não crê em vida após a morte. Logo, também se poderia dizer que o homem é NATURALMENTE ateu. Ao nascer numa sociedade em que todos acreditam em Deus, um homem é levado (não naturalmente) a também acreditar. Porém num mundo civilizado só é possível pensar o homem natural retrospectivamente, a partir de uma linha histórica, em que essa natureza é moldada. Numa sociedade primitiva, a falta de explicações gerou mitos (genêsis). Com o tempo, a ciência (Darwin) tomou o lugar do mito. Numa visão positivista, então, o homem seria "naturalmente" LEVADO ao ateísmo. Mas, afinal, o que se entende por "natural"? Um homem que nasce fora da civilização, criado por animais e, sem deixar descendentes, morre sem se civilizar? Ou a espécie que, a partir de um macho e uma fêmea primitivos iria gradativamente se civilizando? Tarzan ou Lagoa Azul? Tal pergunta significa: a História está contida na natureza do homem ou é algo que aconteceu por acaso? Em outras palavras: se o homem fosse extinto da Terra e nascesse outra vez (do macaco ou de Deus, não importa), a História seria a mesma? Tudo indica que não, pois o homem é livre. Porém esta liberdade mesma não o levaria, de um modo ou de outro, para o mesmo fim? O Nazismo é necessário à História? A luz elétrica e o carro poderiam NUNCA ser inventados nesta outra civilização? Talvez levassem mais tempo, ou menos, para ser inventados, se é que seriam.
Voltando para a única civilização que se conhece, um homem qualquer, que tenha morrido em 1315, está ainda no céu, numa história paralela? O que ele faz lá? Como fazer planos na eternidade, tipo: daqui 20 anos eu caso, dali 20 me aposento e dali mais 20 morro? Como seria fazer planos para sempre, não acabariam? Como viver, sem planos, uma felicidade que não é mais preciso buscar? A imortalidade da alma é análoga à imortalidade da matéria, na qual nada se perde, tudo se transforma. Não são eternas as menores partículas de que o corpo do homem é feito? Eternas porém brutas. Uma alma que vivesse para sempre não se embruteceria? Sua vida não perderia o sentido diante da eternidade que o condena a existir para sempre? Que tipo de felicidade é esta, estática e conformada? Estar vivo não é precisamente saber da morte futura? Ignorá-lo é NÃO o saber, como os animais. Se a morte é uma pergunta e a religião uma resposta, o que nos torna homens: o fato de criarmos uma resposta ou o fato de trazermos uma pergunta na alma?
Otávio

3 comentários:

Giuliano Gimenez disse...

é pra bater continencia sob a epígrafe, senhor?

Anônimo disse...

e não q essa reposta tenha q levar o nome de "deus"

Matheus

Otávio disse...

unica coisa boa neste post é a epigrafe