sábado, 4 de outubro de 2008

Revelação divina do Inferno

O demônio veio até mim e me disse:
- Olha esses homens, como têm medo de mim
E no entanto eu não tenho feito
Senão andar por aí
E mirar o olhar dos mendigos
Antes de morrerem de frio
Eu que, ao lado de Deus,
Vi os loucos serem recolhidos à bastilha
E os homossexuais serem torturados
Eu que quando vi Maiakovski e Sylvia Plath se matarem
Apertei a mão de Deus em silêncio
Eu que trago este ar sombrio
Que põe os psiquiatras em pânico
No entanto não sou mau
A não ser na frieza que trago no olhar
Vivendo entre os homens
Nunca os induzi ao mau
Mais que o Destino
Não tenho feito senão
Acompanhar a rotina dos bêbados
E sentir com eles o vômito emergir à garganta
Ou, em outras praias,
Sentir na língua dos namorados
O LSD que derrete no beijo
Eu que sou o filho mais novo de toda beata
E o recepcionista de igrejas e hospícios
Ah! Eu nem sempre fui tão frio

No início de tudo, eu vi Deus
Pôr elétrons pra girar em torno dos núcleos
E até lhe ajudei
A pôr os planetas em torno de estrelas
E assim nós dois, juntos,
Fizemos os átomos e os sistemas solares
E eu me lembro bem quando Deus me disse:
- Deste núcleo se fará ainda uma bomba!
E havia brilho nos seus olhos.
E vi, assustado, Deus em fúria me dizer:
- Vê estes planetas? Vão se chocar entre si.
E Deus riu um riso mau.
E me olhou com indiferença antes de dizer:
- Colocarei animais neste planeta aqui
E farei alguns pensar que são grandes e inteligentes
E encherei seus peitos de vaidade
E sairão lutando um contra o outro
Alguns perderão o juizo
E sairão cantando nas ruas

E em dizendo isso
Deus me olhou como quem volta a si e disse:
- Não se assuste, meu velho!
Colocaremos neles, eu e você,
Alguma esperança e medo
Pra que arrastem suas existências
Movidos por qualquer lógica
E poderemos, nós os dois,
Ver o desespero surgir dentro deles
E a lágrima verter em seus olhos
E talvez nos causem pena
E ainda assistiremos
- nós dois, meu chapa! -
Seus corpos crescendo sobre a terra
Definhando de desejo por outros corpos
E veremos nos seus olhos débeis
O brilho da angústia!
E os anjos assistirão conosco.

3 comentários:

Anônimo disse...

LSD: louvado seja deus, meu caro otávio.

giulianoquase.

Otávio disse...

para sempre seja louvado

Lígia Pin disse...

Epa! Epa! Huhu!