sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Bruxa má e outras histórias

Setenta anos lendo os clássicos para ser ajudado por uma senhora católica, um jovem cabeludo e um rapaz musculoso. Deus fora injusto, jogando os chatos na cara. Então bastava um meio-fio para desabar? Setenta anos medindo as palavras para perder a pose na frente do banco do brasil, perto do relógio da Tiradentes.
- Tudo bem, senhor? Ajuda aqui, ajuda aqui.
- Toma aqui sua bengala, alguém tem celular?
- Qual é mesmo o número, 192?
- Ele conseguiu ligar ali? Porque meu celular caiu e quebrou, olha só que coisa.
- Sai da rua, chega aqui ó.
- Alô, alô.
- Olha quanto sangue.
- A gente tá aqui na frente do banco do brasil, ele caiu, é um senhor.
Não, não permita deus que eu tropece em Curitiba, cortando os supercílios no asfalto e entregue ao músculo alheio.
- O que você acha da gente colocar ele ali na escada do banco? Vâmo lá, senhor?
- Aí, aí, segura aqui alguém, segura aqui que eu vou trabalhar. Aí.
Este tinha mais cabelos que músculos, a outra sorria:
- Qual o nome do senhor? O senhor é polonês? Ele não quer dizer o nome. Qual o seu nome?
- É da... Por quê?
- dario?
Um chato sempre cospe na cara da gente.
- Não. Por quê?
Então diria o nome? Nesta cidade parece que há um só dalton e entregar assim pro cabeludinho sacar?
- José.
- Quantos anos, seu José?
- Oitenta e dois, mas por quê? Olha que minha namorada é ciumenta.
- Ele disse que a namorada dele é ciumenta.
A vida é bem telemarketing: até crianças de treze anos são chamadas de senhor, mas essa não, cara: repetir a piada.
- Mas acho que sua namorada não vai ficar brava, seu José. O senhor ia na casa dela?
Deus mandara uma senhora católica para chamar o siate e agora o passeio interrompido.
- Não, eu ia na... na... na... biblioteca.
- Ah é? Eu sou estagiário lá, o senhor é leitor?
O cabeludinho todo esperto, cheio de caspa e sgundas intenções. Leitor? Essa doeu, cara, deus sabe que eu sofro, e você vem com ah é, sub-reptício?
- Senta aqui, seu José. Pode sentar que ele ajuda.
Um homem não tem pernas? E as bengalas naturais que não deixam o mundo tremer? Será um terremoto ou oitenta e dois anos? Mas agora sentar era um dever.
- Olha lá, tá chegando!
- Ah, que bom!
- O que foi que aconteceu? Ele aqui? Que que aconteceu, senhor?
O terceiro anti-pedro a chamar-lhe senhor, fosse antes negado como jesus cristinho, antes da corruíra pipiar. Tomés povoassem Curitiba.
- Eu caí ali.
- Ele bateu com a cara no chão, ele caiu de cara.
Não bastasse a sirene poluindo o ouvido, não havia dogma que católico falasse ROSTO.
- Nessa idade é normal dar hipoglicemia: dá tontura e pessoa assim de idade fica fraca.
E todo sangue chupado em vão? Ou não havia vampiro nem nada, apenas um velho cuja bengala lhe fora arrancada? Ninguém diga sou malgrato, antes o beijo desdentado de um Judas ou madaleninhas dengosas soprando.
- Não deram nada pra ele beber, né?
- Só um copinho d'água que o homem do banco trouxe.
- Nessas horas não pode.
- Vocês vão levar ele? Daí como que faz?
- Lá tem assistente social, tudo.
- Tchau então que eu tenho que trabalhar. Deus abençoe vocês.
Tudo: que mais quereria? Assistente social bonitinha e a bênção de deus. Se a beata ordenara, quem era deus para não abençoá-lo?
- Encosta a cabeça aqui, senhor. Cuidado aí. Aí. Fecha.

(Otávio)

Um comentário:

Nara disse...

e "ser um cachimbo" é mordido pelo cão?
=[