por ocasião do (mercadológico) dia dos pais
Tudo que aquele senhor de sonhos morenos queria era que esse verão chegasse antes, com suas chuvas que não molham. Tudo que aquele senhor de olhar melindroso queria era uma senhora simpática que lhe desse uma injeção, não lhe importaria se tivesse os medos já grisalhos e se as rosas da bochecha já estivessem murchas. Aquele senhor só queria receber um bom-dia apressado do carteiro e ler algumas manchetes no jornal, antes que o entardecer lhe tirasse o chapéu e pendurasse nalgum cabide qualquer. Tudo que aquele senhor queria, antes de morrer, era ser feliz. Pobre velho, que nunca deixou que lhe dessem o lugar no ônibus. Pobre velho, de pernas tatuadas de veias, que queria ser cortês com as mulheres de trinta e com as caixas gordas no supermercado, mas só recebia sorrisos falsos. Pobre senhor, que sempre dizia aos outros que era jovem em espírito, que viveu muito e não filosofou, nascido filho único, amou muito sem desposar ninguém, e não podia ficar para tio, tampouco tinha netos de seus, todavia trazia sempre balas no bolso.14/10/05
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