Meus caros senhores
E senhoras do mundo
Entender-me pudessem!
Não creio em Deus
Porque me diz respeito não crer
Não deixo de pensar em Deus por Ele
Mas por mim
Se o problema fosse Deus
Beijava-lhe os pés
Se o Diabo, neste cuspia
Mas vejam que cena!
Que estupidez existir!
Pergunto: para que fui criado?
E me respondem: para duas coisas.
Adorar Deus e renegar o Diabo.
Repito: que estupidez existir.
Agora precisam de mim
Para escolher entre os dois!
Nunca precisaram de mim
Nem Deus nem o mundo
E de repente me dão
O voto de minerva?
Que culpa eu tenho
Se Um não gosta do Outro?
Eles que são eternos que se entendam.
Antes, entender-me pudessem!
Se o problema fosse Deus
Eu cederia: Ele existe
Ele sim, que é Deus, não eu.
Eu não sou Deus: eu vou morrer
E antes disso eu nasci
Percebem agora o tempo que tenho?
Para quem tem a eternidade
Faz sentido perder tempo
A beijar um, cuspir noutro
Eu não tenho a eternidade.
Aí vem um 'ele' e diz que eu tenho.
Não tenho. E entendo de mim mais que um 'ele'.
E por não ter a eternidade
Quero o direito ao que realmente tenho.
Tenho o direito ao tempo entre
Meu nascimento e minha morte
Entretempo este que subestimam
Diante do que chamam eterno.
Querem viver para sempre?
Têm todo o direito!
E todo o tempo têm também
Para achar um sentido
Caso um dia percebam
A estupidez de existir
A beijar um e cuspir noutro.
Mas se nunca atinarem com isto
Que se deliciem com o eterno
Que façam festa com seus Céus e Infernos
Mas que não seja em detrimento
Do meu único entretempo
A que chamo vida, inteira.
E a que chamam pedaço
Duma coisa maior.
Eu que, talvez sério demais,
Chamo a vida de vida
E não pedaço da mesma.
Mas talvez não me entendam
Porque, apesar de eternos, não têm tempo.
Ou não querem.
Porém se trata aqui de mim
Não da existência de Deus, que desconheço.
Até porque, como disse, não me diz respeito crer nele.
Ao contrário de Deus, tenho princípio e fim.
Quem quiser viver para sempre, viva.
Eu quero nascer e morrer, nada mais.
Por favor não me botem a alma empalhada!
(Otávio)