foto por ricardo pozzo |
Foi durante o seu terceiro sumiço, e eu nem imaginava que
você voltaria e que sumiria de novo. Eu sentia muito a sua falta. Levantei-me
mais cedo no sábado e fui até o teatro. Entrei e me sentei, considerei os meus problemas, a minha angústia
de fim de ano. Lembrei-me de quando você, por qualquer motivo, costumava dizer
“está tudo bem”, e estas palavras tinham um poder mágico sobre mim. Só você
podia me dizer esta frase sem que ela fosse falsa. Pensei em fazer um poema ou coisa assim, qualquer coisa em que eu pudesse dizer: “eu só
quero ouvir você me dizer que está tudo bem”, mas foi mais um dos textos que eu
comecei só na minha cabeça e rasguei já na minha cabeça. Foi um dos seus mais longos
sumiços e eu mal podia imaginar que você voltaria. Mas você voltou. Voltou e
disse que tudo não passou de um grande mal-entendido. Você tinha esse jeito de
achar as coisas simples, a vida simples, e eu me sentia intimamente
reconfortado. Lembrei-me então daquela manhã no teatro: eu
finalmente começava a me convencer de que estava tudo bem. Mas esta vez que
você voltou durou pouco: dois estranhos que se encontram no ponto de ônibus e
compartilham a indignação da demora, duas pessoas que se escondem da chuva
embaixo da mesma marquise. E então o ônibus chega, a chuva passa, e não há nada
que a gente possa fazer. Durou pouco, e quando você voltou pela quarta e última vez, eu lhe deixei sem resposta, porque eu tinha medo das palavras que se seguiriam. Estas palavras estão dentro de você, talvez passe um ano, dois, e você as esqueça, e eu pare de imaginá-las. E talvez um dia alguém me diga que está tudo bem e eu me sinta intimamente reconfortado e me lembre de você. Ou talvez não me lembre. (07/12/2010)