o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí
pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some
a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve
já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora
Arnaldo Antunes
Mini galeria de perguntas meramente retóricas
Há 14 horas
2 comentários:
Teu blog é lindo, parabéns!
Vem conhecer o meu:leiakarine.blogspot.com
grande poema-canção! aliás, todas as canções do arnaldo em "o bicho de sete cabeças" são acachapantes. me tornei fã ao "ouvir" este filme. poucos já escreveram tão bem sobre coisa tão difícil: um surto psiquiátrico.
há um poema-livro do frederico barbosa, "louco no oco sem beira", que volta e meia tbm fala sobre o convívio com a doença psiquiátrica (a depressão). é um poema desigual, mas bem interessante.
abç.
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