Excursion into philosophy, E. Hopper |
Sou uma criança. Basta olhar nos meus olhos e ver esta angústia bondosa que só as crianças têm, esta angústia calma de quem jamais mataria a menos que lhe mandassem, a menos que lhe pedissem. Lembro-me que quando era pequeno, perguntavam: você quer este ou este? E eu nada dizia. Eu era - e sou - uma criança, muito desesperada, no fundo de uma sala de aula. 22! Presente. Presente? Talvez. No fundo. Abandonada. Há apenas o som seco da bola explodindo na quadra de vôlei, a torcida distante, ou só o eco, o som agudo dos tênis novos na cancha de futsal, comemorações surdas. É uma escola velha, no meio do nada, a estrada de chão, um predinho no meio do deserto, uma faixa de tinta a meia altura. O quadro, o quadro nunca foi tão negro. Um vidro quebrado, todos foram embora. Há alguns anos. Há apenas a poeira que um carro levanta. Há alguns anos, todos entraram nos carros de seus pais e se foram, cresceram, pegaram diploma, se casaram. Eu fiquei, no fundo da sala: uma criança. Sozinha. Esquecida. Esperando as tropas americanas.
9 comentários:
Lindo texto! Fez lembrar minha infância!
Beijos
:ó(
[n.]
pelo jeito:
o dia deu em adágio
bicho,
depois da aula de vida do antonio torres e do papo sobre memória, você descarregou tudo.
gostei bastante
a propósito, comprei uma edição batuta demais d'Os homens dos pés redondos...
Simplesmente belo.
Parabéns.
Valeu
só não entendi direito a angústia bondosa que só as crianças têm...
Essa
sensação-memória-fração-depressiva me encanta.
Beijos
ei, olhe meu blog.
E me adicione no orkut em seguida.
Começar de novo
Beijos
bicho, você precisa ler a Enciclopédia Britânica Brasileira: Kant, que o Millor Fernandes escreveu. Genial!
Estou, pouco a pouco, degustando esse grande humorista. Tipo: em doses homeopáticas.
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