em memória de Anton Tchekhov
Um menininho, com um cesto cheio de pés-de-moleque preso por uma corda à nuca, anuncia seu produto à fila do ônibus:
- Olha o algodão-doce, leva algodão-doce.
As pessoas, sem entender, olham os pés-de-moleque e não conseguem conter a risada, mas ele prossegue:
- Quem vai querer algodão-doce? Um real...
À frente do ônibus, o cobrador conversa distraído com o motorista.
- Algodão-doce, moço?
O cobrador volta o olhar apressado insinuando uma recusa mas, ao segundo olhar, abandona o motorista e exclama:
- Algodão-doce?! - e cai numa gargalhada boçal, com direito a mão na barrigona e saliva nos cantos da boca, cada vez mais alto.
O menininho, ele sim sem entender, encolhe os ombros, abaixa a cabeça e, quando a levanta novamente, tem nos olhos úmidos um brilho que corta a penumbra do terminal.
A risada reverbera.
(Otávio)
Um comentário:
Excelente!!!
Me lembrou Tolstoi!!!
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