sábado, 23 de junho de 2007

O uniforme

Terminado o expediente, o indivíduo sai da loja em que trabalha como vendedor. Em sua camisa de uniforme está estampado: "Posso ajudá-lo?". Anda duas quadras e uma senhora se aproxima:
- Ô meu filho, eu ando com uns calorão, me dá umas tremedeira nas perna às vezes, que que eu faço, filho de Deus?
- Bom, acho que a senhora deveria procurar um médico. – e continua andando, mas quando pára no sinaleiro seguinte, um sujeito boa-pinta chega estapeando suas costas:
- Pó, brother, mulher é tudo igual mesmo. Não, olha pra mim, me diz: tô barrigudo? Fala sério meu, que que o negão tem que eu não tenho?
- Bem, na verdade eu nem conheço esse negão. – e prossegue absorto.
Já no ponto de ônibus, sente uma mão nas suas costas, em movimentos lentos e leves:
- “Po-sso-a-ju-dá”, que que é isso aqui? Hífen! “-lo” Opa! Com certeza! Olá, irmãozinho, poderia fazer o obséquio de ajudar um cego com a rua?
...Feito o favor, volta para o ponto quando alguém toca seu ombro e ele se volta furioso:
- Puta que pariu! Chega! Não vou mais ajudar ninguém, será que não dá pra ver que é um uniforme?
- Que isso, Márcio? Sou eu, Aninha.
(Otávio)

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