sexta-feira, 1 de junho de 2007

Jefferson e Wellington



Minha primeira crônica pra valer, feita numa oficina no solar do rosário, ministrada pela escritora Isabel Furini:

Jefferson já tomara seu café, odiava caviar, mas fazia questão de comer logo de manhã, pra passar mal o resto do dia. Saiu à janela, olhou a rua, vazia, olhou o céu, cinzento. Um caminhão vinha lentamente, um lixeiro encharcado da chuva se virava para pegar lixo por lixo e jogar no caminhão, era Wellington, sem seus companheiros, só ele e o motorista.

Jefferson contemplava Wellington, que tropeçou e caiu, em cima justamente de seu lixo, cheio de latinhas de caviar, que cortaram o dedão direito da mão e o rosto do lixeiro que, por sinal, nem percebeu o sangue escorrer, em meio a chuva, suor e sujeira.

Jefferson percebeu e, movido por um sentimento estranho, correu levantá-lo, sua assistência foi pouca, tudo que fez foi dizer:

- Está tudo bem? Então corre que o caminhão está indo embora!

O lixeiro odiava aquele bairro nobre, uma vez por mês se cortava naquelas latinhas nojentas.

Aquele episódio foi o suficiente para Jefferson passar o resto do dia na suposta boemia de afogar-se em lembranças, bebendo seu whisky francês. Pensou em toda aquela sua vidinha de trinta anos jogados fora, na qual tudo que soube fazer foi aquilo que os outros já sabiam que faria, seguir as regras da etiqueta e das boas maneiras e comer caviar.

Otávio, em 2002

Um comentário:

Giuliano Gimenez disse...

vc podeira melhorar a cronica antes de postar. mas vale a pena ler de novo