"Muitos leitores de
Letter to a Christian Nation inspiraram-se em Pascal para argumentar que a evidência está fora de questão e que fiéis religiosos simplesmente escolhem a mais sábia de duas opções: se um fiel está errado sobre Deus, não há muito dano para ele ou para outros, e se ele está certo, ele ganha a felicidade eterna; se um ateu está errado, entretanto, ele está destinado a passar a eternidade no inferno. Nesta visão, o ateísmo é o retrato da mais irresponsável estupidez. Embora Pascal mereça sua reputação como matemático brilhante, sua aposta nunca foi mais do que uma atraente (e falsa) analogia. Como muitas ideías atraentes em filosofia, é facilmente lembrada e frequentemente repetida, e isto a emprestou um imerecido ar de profundidade. Uma reflexão rápida revela que se a aposta fosse válida, poderia justificar quase todo e qualquer sistema de crença, independente de quão grotesco e contrário à Cristandade ele seja. Outro problema com a aposta - e é um problema que geralmente infesta o pensamento religioso - é sua sugestão de que uma pessoa racional pode conscientemente querer acreditar no que não acredita, isto é, numa proposição para a qual não tem qualquer evidência. Uma pessoa pode
professar qualquer crença que queira, é claro, mas para realmente acreditar nela, ela deve acreditar que ela é verdadeira. Acreditar que há um Deus, por exemplo, é acreditar que você não está apenas se iludindo; é acreditar que você está numa relação com respeito à existência de Deus tal que, se Ele não existisse, você não acreditaria nele. Como a aposta de Pascal se encaixa neste esquema? Não se encaixa." (do posfácio a uma das edições de "Letter to a Christian Nation", de Sam Harris).
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