quarta-feira, 21 de maio de 2008

Discutindo religião

Normalmente falo de religião de maneira efusiva, mas agora vou adotar como critério só o que ela contém de tema, quer dizer, meu tema será simplesmente um meta-tema, deixando pra trás meu ateísmo militante em favor de um ateísmo metodológico, portanto serei o mais imparcial possível, se é que isso é possível...
A religião hoje, mais do que outros temas, parece tomar as proporções de um tabu. Tome-se por exemplo o sexo, admito que é um tema bem mais excitante do que religião, mas, como no passado dividia com ela a mesma tensão, acredito que a comparação seja boa.
Apesar de discutido à exaustão, o sexo continua sendo algo proibido para certos horários, idades e ocasiões. Porém, fora destes horários, idades e ocasiões, ele pode VOLTAR a ser tratado com toda a naturalidade. Trata-se, pois, de um resquício de proibição, mas uma proibição puramente EXTERNA.
Quanto à religião, não é difícil perceber que a situação se inverte. Um fantasma ronda o tema, e isto devido, entre outras coisas, ao pluralismo e onipresença da religião, reforçados pela lei da liberdade de crença que, ao invés de diminuir os preconceitos, nos lança em constante estado de guerra fria. Sua proibição não se expressa em classificações, estilo "programa inadequado para evangélicos", nem em rótulos, tipo "produto destinado a esotéricos". De onde vem a proibição? Ela é puramente INTERNA.
Se, por um lado, a sociedade conseguiu se tornar laica, por outro transformou o sagrado em aberração. A religião hoje está no mesmo plano de uma contracultura, assim como os punks, emos etc. Creio que a razão disso é o fato de a secularização ter atingido apenas o âmbito coletivo, social, cobrindo com uma nuvem de poeira o âmbito individual, onde reside a fagulha da religião. Pois, embora se tenha buscado explicações sociológicas para temas como religião e suicídio, suas razões são de viés estritamente filosófico, no máximo psicológico. E ainda que não fossem, é preciso admitir que, de qualquer forma, embora sejam fenômenos TAMBÉM coletivos, são ANTES individuais.
Acredito que isso explique a popularização do sexo em detrimento da religião. Pois, enquanto a religião (ou a falta dela) é, antes de tudo, uma experiência solitária, o sexo é uma experiência coletiva, não estou falando de sexo grupal, ele é uma EXPERIÊNCIA coletiva e não um ATO, e coletiva na medida em que é movido em quase todos pelas mesmas razões e, com raras exceções de orgasmo múltiplo, tem o mesmo efeito para todos, ao contrário da religião. Esta, sendo essencialmente subjetiva, acaba se integrando à nossa personalidade (dizem que a formamos aos vinte, e aos quarenta não a mudamos mais), razão pela qual, por diplomacia, procura-se evitar o tema da religião que, em última instância, soaria como um insulto à própria PESSOA e não à INSTITUIÇÃO.
Mas, se o fato de a religião integrar-se tão estreitamente à pessoa torna o tema, por um lado, proibido, por outro, torna-o de suma importância. Assim o sexo, por sua vez, tendo sido absorvido pelo caráter objetivista da sociedade, sofre o processo inverso da religião, pois, embora seja também de suma importância, acaba sendo banalizado pela repetição dos discursos.
Ora, se é mesmo verdade que a religião está tão presente quanto o sexo, ou até mais, ao ponto de não ser possível permanecer neutro diante dela sem ser chamado de agnóstico, se é assim, então talvez toda discussão sobre religião acabe caindo numa espécie de pornografia da alma, em que se tenta pôr a nu as mais diversas crises existenciais, vividas nas situações mais solitárias, mais ou menos como um adolescente que se masturba no banheiro, às escondidas. E isso tudo acaba sofrendo a censura do objetivismo social. Eis porque, para além da política e do futebol, acho que a religião é tabu.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Entressono

Gosto de estar com sono. Dei pra gostar de muita coisa ultimamente, até de mim andei dando pra gostar, pra doutor psicólogo nenhum botar defeito, tanto que me fiz de moço simples. Fico à noite sem dormir, dou pra inventar de querer saber de ler alguma coisa, já de evitando levantar cedo, que das quatro às seis melhor nem deitar pra não tocar de desmaiar, que quando vê já vem o sol na cara e a dia não rende. Quis dar pra esquecer que sei que devia de dar pra saber, que hoje sem estudo não dá de dá. Entro de à toa no elevador, os números vão piscando, todo mundo olha pra ver acender, ninguém fala mas já sabe que a porta vai fazer abrir pros lados mesmo, até que a gente sai alegre de sono de lá de dentro, dorme a aula inteira, parece que nem devia de fôr. Em casa, aponho logo um dedo de chinelo, que fica embaçado da fumaça do pé, olho no espelho, meio vermelho do olho, dou de piscar que nem elevador, parece que vuô açucar no olho, penso que queria achar de ser simples de nem souber escrever, só pra não dá de ter que ler dando uma de entender, porque no meu tempo fosse tudo simples mesmo, de até ter cara de besta bobo de ficar só parado, se esperando. Só pra ver de rir.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Fonte de inspiração:

Considero esses textos, na maioria, irrelevantes ou mal escritos. Não é modéstia, é constatação. Tenho consciência de que a única coisa que escrevo bem é propaganda. (...) Já quando o negócio é escrever qualquer outra coisa que não seja propaganda, a coisa muda de figura. (...) Sou um leitor voraz, e, quanto mais leio o que os outros escrevem, menos gosto do que eu escrevo. Não precisa ser nenhum Machado de Assis ou Scott Fitzgerald. Qualquer Gay Talese é capaz de ativar o meu complexo de inferioridade. WO

sábado, 17 de maio de 2008

meme?

por ocasião de uma sugestão anacarolinabraguiana, que aliás eu, um cara quadradão, não entendi direito, vou citar a primeira coisa que me ocorreu: uma música de minha profunda estima, do Gonzagão.

Assum Preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

Tudo em vorta é só beleza, sol de abril e mata em fror

Mas assum preto, cego dos óio, não vendo a luz, ai
Canta de dor
Mas assum preto, cego dos óio, não vendo a luz, ai
Canta de dor

Tarvez por ignorança, por mardade das pió
Furaro os óio, do assum preto, pra ele assim, ai
Cantá mió
Furaro os óio, do assum preto, pra ele assim, ai
Cantá mió

Assum preto veve sorto, mas não pode avoá
Mil veiz a sina, de uma gaiola, desde que o céu, ai
Pudesse oiá
Mil veiz a sina, de uma gaiola, desde que o céu, ai
Pudesse oiá

Assum preto, o meu cantá, é tão triste como o teu
Também robaro, o meu amô, que era a luz, ai
Dos óios meus
Também robaro, o meu amô, que era a luz, ai
Dos óios meus

Citação (Rafael Sica)

sábado, 10 de maio de 2008

Breve Monólogo

- Meu amigo (posso te chamar de amigo? sim? você não se importa?), não tenho sido muito eloqüente, vacilo sempre nas palavras, sabe, parece que estão me olhando lá dentro da alma quando eu falo, aí baixo os olhos pra não ficar tímido, mas me sobe um medo na garganta, começo a duvidar de mim, se as verdades que eu falo não seriam mentiras, houve um tempo em que quis ser escritor, sim, havia um tempo em que eu era mais eu, hoje sou bem menos... Fiz poemas, eram todos de uma tristeza vulgar, a poesia é para os fracos, bem sei, entendo, sim, sei como é, mas não me importo, não temos nada a perder, não é mesmo? Percebi que imitava o ritmo alheio, isso me fazia sentir mais fraco, então queria ser sempre sincero, mas isso também era sinal de fraqueza, depois esbocei um silêncio, como quem não quer nada, só para ouvir um som distante, franzindo a testa, e os minutos seguintes se gastavam na interpretação daquele som que a gente não sabe de onde vem, mas o silêncio me acusava igual, perguntavam se estava tudo bem, porque o silêncio assusta as pessoas, como alguém que não acorda de manhã, por mais que a gente chacoalhe. Faz frio, não? O olhar dos outros não te assusta? Esse jeito de tremer a sobrancelha como se soubessem mais que a gente, sim, mais que a gente, meu amigo, e sobre a gente, já tentou se olhar com os olhos do outro? Olha só essa senhora, viu como olhou de relance? Parece que se esquiva de jornalistas, é assim que eu me sinto, essa senhora nem sabe que se parece comigo, me sinto como se um bando de jornalistas me abordasse, com seus olhos cheios de interrogação e os ávidos microfones, encostando na boca fechada da gente, ah essa senhora é minha amiga, viu como ela se encolhia embaixo do cachecol? Achou que fôssemos jornalistas! Sabe por que não puxamos conversa? Não queremos nos tornar cúmplices, nunca se sabe se um bêbado não vai te contar um crime, ou levantar a blusa pra mostrar a camiseta cheia de sangue. E nesse frio é melhor andar de mão no bolso, o crânio enfiado num capuz de astronauta, e o mais engraçado é que quando levanto a cabeça dou de cara com um gari no meio da bruma, como se recolhesse neve naqueles filmes, então percebo que passei por ele e lancei-lhe um olhar fulminante, acho até que ele se assustou, mas eu não queria fulminá-lo, queria sorrir pra ele, dizer bom dia, agradecer por arrastar a neve do meu coração, mas então ele se tornaria meu cúmplice, ele deve estar acostumado a receber esses olhares de superioridade, já nem se importa, são tão calmos esses garis, me lembram aquelas preguiças em suas árvores. Sim, você já me ouviu até aqui, a primeira vez que lhe chamei de amigo até se assustou, afinal temos nossos próprios amigos, mas agora você deve estar pensando que se tornou meu cúmplice, não se assuste, eu advinho pensamentos... E para onde fugiremos? Com que cachecol? Sim, eu gosto de metáforas, faz a gente se sentir dentro de um livro. Já pensou que você poderia ser um personagem? Não seria fantástico! Você andando numa rua deserta às três da manhã, com aquele gosto de álcool na boca, e uma música bem triste tocando ao fundo enquanto você anda, e então a câmera dá um close bem nos teus olhos, e aquela lágrima surge e é desfigurada pelo vento, virando um desenho no rosto, um desenho de água. É mesmo uma pena que a gente não seja um personagem qualquer, que os nossos passos se percam pra sempre naquela rua... falar em rua, eu viro aqui, quase não reparei nessa neblina, adeus, cuidado o carro!, adeus!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia... Tudo passa... Tudo sempre passará...

"Aos 16 anos eu li O Estrangeiro do Alber Camus, e aquilo foi um impacto na minha vida, e aí fui procurar outras coisas do Camus pra ler..."

"Mas eu acho que a literatura que eu faço não tem a menor pretenção de mudar o mundo, o que eu faço é uma coisa pop, de entretenimento, tem muita gente que diz que quer fazer arte, mas não é nem capaz de fazer um entretenimento básico"

"O meu pecado é gostar do John Grishan, mas admito que gosto, e acho bem melhor que o Paulo Coelho, que é meu amigo, e ele sabe que eu não leio os livros dele, e ficou por isso mesmo, e somos grandes amigos"

Nelson Motta, em entrevista no Paiol Literário
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ps: "prefiro conversar com escritor" (Nelson Motta, sobre músicos)

quinta-feira, 1 de maio de 2008