Ao longo dos últimos dez anos publiquei, neste ou naquele veículo, cerca
de vinte trabalhos sobre a filosofia da religião. Tenho um livro sobre o
assunto,
Deus e o ônus da prova, e outro que critica a apologética cristã,
Por que não sou um cristão.
Durante minha carreira acadêmica debati com William Lane Craig duas
vezes e duas vezes com criacionistas. Escrevi uma tese de mestrado e uma
de doutorado sobre a filosofia da religião, e ministrei cursos sobre o
assunto inúmeras vezes. Mas não mais. Basta. Estou de volta ao meu
interesse real, que se situa na história e filosofia da ciência e, após
terminar alguns compromissos em andamento, não escreverei mais nada
sobre a filosofia da religião. Eu poderia dar muitos motivos. Por um
lado, acho que um grande número de filósofos representaram os argumentos
a favor do ateísmo e do naturalismo tão bem quanto possível. Graham
Oppy, Jordan Howard Sobel, Nicholas Everitt, Michael Martin, Robin Le
Poidevin e Richard Gale têm produzido obras de grande sofisticação que
destroem os argumentos teístas tanto em suas formulações clássicas
quanto nas mais recentes. Ted Drange, JL Schellenberg, Andrea
Weisberger, e Nicholas Trakakis apresentaram poderosos, e, a meu ver,
irrespondíveis argumentos ateológicos. Gregory Dawes tem um livro
extraordinário mostrando exatamente o que há de errado com "explicações"
teístas. Erik Wielenberg mostra muito claramente que a ética não
precisa de Deus. Com humildade honesta, realmente não creio que tenha
muito a acrescentar a estas obras excelentes.
Em primeiro lugar, porém, o que me motiva é um sentimento de tédio, por
um lado, e de urgência, por outro. Dois anos atrás, ministrei um curso
de filosofia da religião. Estávamos usando, entre outras obras,
Cartas para um Thomas em dúvida: argumentos a favor da existência de Deus,
de Stephen C. Layman. Nas aulas tento apresentar material que considero
antitético ao meu próprio ponto de vista da forma mais justa imparcial
possível. Com o livro de Layman, fiz um esforço enorme para consegui-lo.
Achei-me, literalmente, temendo ter de passar por essa obra em sala de
aula: não, deixe-me salientar, porque estivesse intimidado pela força
dos argumentos. Ao contrário, achei os argumentos tão execráveis e sem
sentido que me aborreciam e enojavam. Ora, Layman não é um maluco ou um
ignorante, ele é o autor de um livro de lógica muito útil. Tenho que
confessar que hoje considero "os argumentos a favor do teísmo" como
fraudes e já não consigo apresentá-los aos alunos como se represetassem
uma posição filosófica respeitável, assim como não conseguiria
apresentar o desígnio inteligente como uma teoria biológica legítima.
Aliás, ao dizer que considero os argumentos para o teísmo como fraudes,
não pretendo acusar as pessoas que os usam de vigaristas, que visam
enganar-nos com afirmações que sabem serem falsas. Não: os filósofos
teístas e apologistas são quase dolorosamente sinceros e honestos; não
penso que haja um Bernie Madoff no grupo. Simplesmente não consigo mais
levar a sério seus argumentos e, quando não conseguimos levar uma coisa a
sério, não devemos lhes dispensar uma atenção acadêmica séria. Passei
para um colega os cursos de filosofia da religião.
Como disse, há também um sentido de urgência. Acabo de completar 58 anos
e quero dedicar os relativamente poucos anos restantes de minha vida
acadêmica àquilo que não apenas respeito, mas amo. Adoro a astronomia;
adoro a geologia; adoro a paleontologia, e acho a história desses campos
fascinante. Também estou muito interessado nos problemas filosóficos
associados com as ciências históricas. Como compreender e reconstituir
acontecimentos que tiveram lugar no fundo do tempo é um interesse
profundo e permanente para mim. Publiquei dois livros sobre a história
da paleontologia de dinossauros, e voltarei a esse tipo de coisa.
Assim, com exceção dos compromissos que estou terminando agora, abandono
a filosofia da religião. Talvez ainda responda a algumas críticas aos
meus trabalhos publicados. Por exemplo, o Secular Web tem uma crítica
longa do meu ensaio "Não se necessida de criador”, e eu poderia
responder a ela. Continuarei de vez em quando a postar coisas no Secular
Outpost. Quanto ao resto de vocês, que estão combatendo o bom combate
contra o sobrenaturalismo, por favor continuem. Alguém precisa se opor a
esse tipo de coisa. Apenas, não serei eu.
Keith Parsons
*texto encontrado
no blog Acontecimentos, de Antonio Cicero.