Um amigo meu com quem estive esses tempos no Arpoador, aqui, na cidade maravilhosa, publicou esses dias um belíssimo texto em prosa, no blog pó&teias, que vale à pena ser reproduzido aqui:
Apresentei dia desses, a um camarada meu de Curitiba, algumas das famosas praias do Rio de Janeiro: Flamengo, Urca, Leblon e Arpoador, interessante, pois já me sentia pouco à vontade ou desacostumado com vários aspectos bem próprios dos litorâneos, ainda mais dos cariocas e fluminenses, meus conterrâneos, às vezes citadinos tão soberbos de seu litoral, cuja fama e beleza é proporcional à desfiguração da cidade, mascarada para o mundo de Globo e Olimpíadas. Contudo, aqui existem pedras e existem orlas, praias onde não fiz castelos de areia, mas caminhei sobre os avatares do horizonte; há mais de seis anos não subo os mirantes que dão ornamento às encostas e quebra-mares, que, para mim, sempre foram a parte mais fascinante de um litoral, assim como a maresia da noite; ironicamente nem mesmo os meus pés se equilibram naquelas pedras com a mesma flexibilidade de antes, me esqueci até o simples hábito de lavar o chinelo no mar e tirar a areia enquanto se anda descalço no calçadão, ex-carioca mesmo; revisitar um lugar, parece uma nova permissão, a distância nos veta a presença física, regressos, somos licenciados da distância, no entanto agora, apesar da licença, sinto-me embargado no estranho deslocamento da memória. Por fim, tivemos o brinde amargo do calor e o crepúsculo de um sol anátema; dizem os meteorologistas que estamos sob um pico extraordinário de calor, provavelmente dirão o mesmo ano que vem. Ah o sol, causticamente desolador, implacável tal qual o amanhecer que te chama para o cotidiano e não para o mar, esse mesmo sol gerador do calor que de tão quente morrerá como o escorpião suicida quando cercado pelo fogo; sossegados, isso é para daqui a dez bilhões de anos, ele se transformará em carbono e tudo será uma senescente estrela anã branca.
Apresentei dia desses, a um camarada meu de Curitiba, algumas das famosas praias do Rio de Janeiro: Flamengo, Urca, Leblon e Arpoador, interessante, pois já me sentia pouco à vontade ou desacostumado com vários aspectos bem próprios dos litorâneos, ainda mais dos cariocas e fluminenses, meus conterrâneos, às vezes citadinos tão soberbos de seu litoral, cuja fama e beleza é proporcional à desfiguração da cidade, mascarada para o mundo de Globo e Olimpíadas. Contudo, aqui existem pedras e existem orlas, praias onde não fiz castelos de areia, mas caminhei sobre os avatares do horizonte; há mais de seis anos não subo os mirantes que dão ornamento às encostas e quebra-mares, que, para mim, sempre foram a parte mais fascinante de um litoral, assim como a maresia da noite; ironicamente nem mesmo os meus pés se equilibram naquelas pedras com a mesma flexibilidade de antes, me esqueci até o simples hábito de lavar o chinelo no mar e tirar a areia enquanto se anda descalço no calçadão, ex-carioca mesmo; revisitar um lugar, parece uma nova permissão, a distância nos veta a presença física, regressos, somos licenciados da distância, no entanto agora, apesar da licença, sinto-me embargado no estranho deslocamento da memória. Por fim, tivemos o brinde amargo do calor e o crepúsculo de um sol anátema; dizem os meteorologistas que estamos sob um pico extraordinário de calor, provavelmente dirão o mesmo ano que vem. Ah o sol, causticamente desolador, implacável tal qual o amanhecer que te chama para o cotidiano e não para o mar, esse mesmo sol gerador do calor que de tão quente morrerá como o escorpião suicida quando cercado pelo fogo; sossegados, isso é para daqui a dez bilhões de anos, ele se transformará em carbono e tudo será uma senescente estrela anã branca.
Tullio Stefano
8 comentários:
Seu amigo é talentoso com as palavras.
Morro de vontade de passar uma temporada por aí, mas, sinceramente, temo pela violência...
Beijos, boa estada.
Que HONRA!
Valeu!
t.s.
Conheci o Tulio.
Conversamos sobre o Walter Benjamin e acabamos tomando umas e outras na casa do Jacques.
É sempre uma honra.
Abraços aos dois!
é isso aí. ótimo texto. mt poético.
não é novo o que vou dizer, mas acredito piamente:
a linguagem poética é sempre uma alegria! "a thing of beauty is a joy forever." (keats)
augusto dos anjos é uma alegria
rimbaud é uma alegria
cabral é uma alegria
trakl é uma alegria
artaud é uma alegria
ana cristina césar é uma alegria
iessiênin é uma alegria
emily dickinson é uma alegria
não importa que autor diga: "vá lá,
seu filha da puta, se mate!" (como aliás já fez o álvaro de campos)
não importa.
se houver beleza, é uma alegria.
um abraço, tullio.
outro pra vc, otávio.
madeira.
sempre achei uma forma de intensidade diferente nas palavras do meu grande amigo Tullio;fosse na conversa pessoal ou nos bilhetes e algumas cartas tão rápidas q já me mandou,hoje nos e-mails;o cara é foda!agorame aparece como poeta,e mostra os textos dos seus muito falados amigos de Curitiba,show demais esse blog,assim como o poeteias;e pô,eu aqui na Nova Zelândia,matando a saudade da língua portuguesa poéticamente!
o texto é lindo!e esse blog é um dos melhores que ja li.
parabéns!
e este título tá me cheirando à nova lua...
abraços daqui deste lado
Sabe que o fundamental é ir ver o por do sol, bem ao estilo da lygia f. telles, sabe.
puxa vida, homem papel, coma!
Postar um comentário