"Não há cura, não sabemos a causa. Há grande expectativa para que se confirme a hipótese de que há um componente genético importante" Estevão Vadasz, psiquiatra e responsável pela Associação de Amigos do Autista (AMA) de São Paulo, em entrevista à Gazeta do Povo.
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"não há um consenso sobre o que sejam verdadeiramente uma psicose infantil ou um autismo infantil" Maria Cristina Kupfer, Educação para o futuro, Psicanálise e educação, 2000.
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"Quem faz o diagnóstico é o psiquiatra infantil. Já o tratamento deve ser feito por uma equipe multidisciplinar. (...) No Brasil há divergência, fora não. Aqui os pais passam por uma via-crúcis, cinco, seis profissionais" Vadasz
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"Um dos principais entraves ao avanço dos estudos sobre a psicose infantil e o autismo está na disputa diagnóstica. A falta de concordância entre profissionais impede, logo de saída, qualquer estudo epidemiológico e dificulta enormemente as trocas científicas, já que os pesquisadores não estão falando do mesmo objeto de pesquisa - o autista do neurologista não é o autista do psicanalista" Kupfer
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"Há 30 anos pensava-se que o autismo era uma doença ou síndrome causada pela baixa qualidade na relação entre as mães e os filhos..." Vadasz
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"uma mãe sustenta para seu bebê o lugar de Outro primordial. Impelida pelo desejo, antecipará em seu bebê uma existência subjetiva... Desenhará com seu olhar, seu gesto, com as palavras, o mapa libidinal que recobrirá o corpo do bebê, cuja carne sumirá para sempre sob a rede que ela lhe tecer. (...) Quando esses atos de reconhecimento recíproco começam a falhar e se perde a sua constante realimentação, vemos surgir, logo por volta de seis meses de idade, os primeiros traços autistas. O bebê não olha para ninguém e evita especialmente o rosto materno... o bebê sentado não fixa a cabeça, que cai para o lado, já que não há por que olhar. Mais tarde, a boca, não erotizada, não recortada pelo trabalho materno de fazer nascer - nisso que é pura carne, pura necessidade - a pulsão oral, estará sempre semi-aberta... a criança exibirá uma baba constante, a deslizar por entre seus lábios moles" Kupfer
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"...Hoje sabemos que se trata de um transtorno biológico do desenvolvimento do sistema neurológico" Vadasz
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"O autismo de Kanner* nasce em estreita conexão com a culpabilização das mães. Em movimento oposto, são desculpabilizadas pela psiquiatria biológica: o problema está na falha dos neurotransmissores, dizem esses teóricos. Independentemente de que isso efetivamente possa ocorrer - embora não se saiba se é o autismo que a provoca ou se é o contrário - o uso que a sociedade faz disso é o seguinte: ao serem desculpabilizadas (e precisam sê-lo, pois efetivamente não têm culpa), são pelo mesmo ato desresponsabilizadas" Kupfer, grifos meus
*"Kanner oscilou, no transcurso de seus textos, entre considerar a dimensão do orgânico na etiologia do autismo - uma síndrome genética - e enfatizar as relações mãe-bebê para explicá-lo. (...) Para um psicanalista, a observação sobre o lugar das mães na montagem do autismo não é nada desprezível. Muitos deles puseram-se a buscar essas relações, mas não parecem ter sido mais felizes que Kanner. Hoje são eles o alvo de ataque das mães, associadas em AMAS por todo o mundo, e que fogem dos psicanalistas como o diabo da cruz" (idem)
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Enfim, fiz este post porque, na minha modesta opinião, a reportagem de Adriana Czelusniak, na Gazeta do Povo de hoje, me pareceu passar uma visão mais ou menos unilateral do tema. Mas podemos ainda acrescentar, a título de conclusão, o que diz Maria Cristina Kupfer no mesmo livro: "Nenhum psicanalista, em sã consciência, pode negar que um bebê seja antes de mais nada um feixe de nervos. E acolherá como bem-vindas todas as experiências que puderem avançar no conhecimento das bases neurológicas de todas as patologias. Um psicanalista acredita, porém, que o corpo de um bebê jamais sairá de sua condição de organismo biológico se não houver um outro ser que o pilote em direção ao mundo humano, que lhe dirija os atos para além dos reflexos e, principalmente, que lhes dê sentido. Assim, de nada adiantará um organismo absolutamente são se não houver quem o introduza no mundo do humano, vale dizer, da linguagem". Finalmente, vale ler o depoimento da própria jornalista que, além de fazer a reportagem para a Gazeta, é também mãe de uma criança com autismo.
Mini galeria de perguntas meramente retóricas
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