domingo, 28 de dezembro de 2008

O dia em que me suicidei

Diante do meu suicídio virtual, quer dizer, quando excluí esses dias minha conta do orkut, ainda que por motivos quase técnicos (spams), entrei numa discussão com um amigo sobre isso e gostei muito do seu último e-mail:

"fala ae rapá,sim,acho q entendo,li agora tua crônica a este respeito;a internet veio como um circo de egotismo e paranóia,nada impede que brinquemos nisso aqui,que sejamos egotistas e paranóicos,pois somos;olhar-se no espelho e a melhor ou pior coisa,cair de cara nele como narcisos afoitos é ainda uma incidencia mais comum e necessária,;quando entrei no showkurt,busquei manter apenas contato com algumas pessoas de Ctba e talvz do RJ,colecionar clips(diversão de bebado entediado) e tambem quis saber o q havia ficado p.trás,colegas,inimigos,amigos,ver o como todos dançam nessa,encontrei o perfil de um amigo,o qual depois decobri q estava morto,foi à ele quem dediquei aqule poema entitulado'kadish'pois o cara era judeu,ele se preocupou antes de se suicidar em caprichar o perfil,como dissesse"Não me esqueçam ou Amo a todos vcs"a questão aí é a velha necessidade de integração e de se reconhecer pessoa,tudo isso recheado e sustentado num tipo de anonimia pós moderna,onde se tem nome e realidade,porem,continua-se anônimo,tem o nome,um perfil,uma face,um povoamento,acha q tem fãs e comunidades,mas,se falta pele,tudo isso é mera esquizofrenia,heterônimos vazios;sempre digo que falta a nossa época é pele,estamos com os ossos demais expostos,quase esfarinhados..."

Com isso, não pude deixar de me remeter ao monólogo "A Queda" de Albert Camus:

"Confesso-lhe o meu cansaço. Perco o fio dos meus relatos, já não possuo aquela clareza de espírito à qual os meus amigos se compraziam em prestar homenagem. Digo amigos, aliás, por princípio. Não tenho mais amigos, só tenho cúmplices. Em compensação, o seu número aumentou, são o gênero humano. (...) Como sei que não tenho amigos? É muito simples: eu o descobri no dia em que pensei em matar-me para lhes pregar uma boa peça, para puni-los, de certa forma. (...) No que me diz respeito, já consigo ouvi-los: 'matou-se porque não pôde suportar que...' Ah! caro amigo, como os homens são pobres de inventiva! Julgam sempre que nos suicidamos por uma razão. Mas podemos muito bem suicidar-nos por duas razões. Não, isso não lhes entra na cabeça. (...) Uma vez morto, eles se aproveitarão disso para atribuir ao gesto motivos idiotas ou vulgares. (...) Olhe, depois de tudo que lhe contei, que acha que me aconteceu? Nojo de mim mesmo? Ora!, convenhamos, era sobretudo dos outros que estava enojado. (...) Meu caro amigo, não demos pretexto para nos julgarem, por pouco que seja! Caso contrário, nos deixam em pedaços. (...) Compreendi isso num relance, no dia em que me ocorreu a suspeita de que, talvez, eu não fosse tão digno de admiração. A partir de então, passei a ser desconfiado. (...) Sentia-me vulnerável e entregue à acusação pública. (...) A partir do momento em que temi que houvesse em mim qualquer coisa a ser julgada, compreendi, em suma, que havia neles uma vocação irresistível para julgar. (...) Eis o que nenhum homem consegue suportar. A única defesa está na maldade. As pessoas apressam-se, então, a julgar, para elas próprias não serem julgadas..."

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Je vous salue, Marie

- Não acredite que o dólar vá baixar. Não acredite que as férias serão
agradáveis. Pode acreditar que a chuva vem de cima para baixo. É a lei da
natureza.
- O mundo é muito triste.
- Não é triste, é grande.


trecho do "filme do Gogard"

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Citação


De que me vale seu amor,
Ziza,
se o que eu vejo
é o viaduto
e muitos,
muitos carros.

Giuliano Gimenez



(mulher descansando
de Iriene Borges)

domingo, 21 de dezembro de 2008

Um dia desses

Beleza não se discute. Aliás, até se discute, mas quando não se está paralisado pela mesma, por isso relutei tanto em fazer um post sobre adriana calcanhotto diante da última explosão midiática. Não sei se consigo ler tão cedo o saga lusa, mas já vai entrar pra minha lista que quase não anda, ao lado da biografia do tim maia, por exemplo. Daí que, em visita ao site oficial, está lá, no repertório de maré, juntamente com a música de trabalho mulher sem razão (que já me agradava desde o burguesia do cazuza), uma faixa chamada um dia desses, do "poeta suicida" com um tal de kassin, que é de uma beleza, no mínimo, indiscutível:

de tanto me perder, de andar sem sono
por essa noite sem nenhum destino
por essa noite escura em que abandono
uns sonhos do meu tempo de menino
de tanto não poder mais ter saudade
de tudo o que já tive e já perdi
dona menina, eu me resolvo agora
a ir-me embora pra bem longe daqui.
um dia desses eu me caso com você
você vai ver ai, ai, você vai ver
um dia desses, de manhã, com padre e pompa
você vai ver como eu me caso com você
meu pobre coração não vale nada
anda perdido, não tem solução
mas se você quiser ser minha namorada
vamos tentar não custa nada
até pode dar certo
ai ai
e se não der eu pego um avião, vou pra xangai
e nunca mais eu volto pra te ver.

Torquato Neto
___
ps: no mesmo site, tem o áudio das músicas e da adriana falando de cada uma delas. E quanto ao livro, um dia desses eu leio...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Pô, tá virando perseguição

Pra quem está mais perdido que um curitibano, tipo assim, mais perdido que ateu em corpus christi, vamos recapitular: curitibano é o mais depressivo, o mais idiota e o mais mesquinho que tem e o que menos faz sexo... e agora o mais perdido. Ou seja, o curitibano é o meu herói, ou melhor, o meu anti-herói, no sentido apolíneo-dionisíaco nietzschiano do herói trágico... é, esquece, o que estou querendo dizer é que, graças ao estereótipo do curitibano, posso sublimar minhas derrotas a tal ponto de me orgulhar dos meus defeitos e, assim, ser um perdedor feliz! Sim, porque o curitibano é praticamente um personagem do Dostoievski, isto é, um desgraçado, um pobre-diabo, um idiota. Resta aguardar cenas dos próximos capítulos, quem sabe algo como curitibano é o que tem o menor pinto, que tal? Enfim, Curitiba é isso aí, só não vale elogiar!

sábado, 13 de dezembro de 2008

Amor

Só o amor é real. Amar é como estar preso do lado de fora do espelho, é como estar embaixo do céu, é como o projétil que se submete às leis de Newton: não amar seria como pisar sem os pés. Mas a dialética do amor nos faz odiar: odiamos então. Como se quiséssemos provar ao amor como somos fortes. E gritamos no ouvido do amor que nos deixe e que nos deixe e que não volte, mas então nos pegamos gritando com nosso próprio reflexo. E então jogamos, enfurecidos, o espelho no chão: o amor nos olha, irônico, através dos cacos. E quanto mais odiamos, mais nos sentimos do lado de fora do espelho, mais nos descobrimos reais. E quando uma mão toca a outra e o cérebro diz: uma mão toca a outra – isso é amor. E quando vemos uma mosca doida na teia da aranha e o cérebro diz: mosca doida – pois isso é amor! Por isso amamos com tanta violência, porque amamos pelo mesmo motivo pelo qual o fogo queima, pelo mesmo motivo pelo qual a turbina do avião se põe em movimento. Por isso amamos – com o descontrole de quem ri de uma piada. E quanto mais nos proíbem de rir, mais a risada nos oprime o peito, até que nos pegamos às gargalhadas no meio de uma catedral basílica, e nos olham como se perguntassem: por quê? Mas nós respondemos: não seria por que é proibido? Pois pela mesma razão amamos! Porque o próprio amor, em sua pureza, nos proíbe de amar. Não obstante, prendemos o amor em nossas mãos: e quando abrimos não há nada. Não importa: o importante foi que os ossos da mão se fecharam sobre si mesmos, o importante foi que, na expectativa de ver o que havia na mão, nossos olhos brilharam, e os olhos de todos os que estavam à nossa volta brilharam, mesmo que não houvesse mais nada na mão, e nos chamassem de mentirosos. Pois sim, respondemos, não é mesmo que só há mentira se houver verdade? Por isso a mão vazia denuncia o amor, tanto que deve estar vazia para poder mostrá-lo. É fato: só o amor é real. Um pastor que, de terno e cabelos penteados, prega para a igreja vazia denuncia o amor, pois ele está de olhos fechados e pouco importa que a igreja esteja vazia, porque o amor corria tão feroz nas suas veias que ele sentiu necessidade de amar a Deus, que ele sentiu necessidade de apertar os olhos e gritar, gritar! Para que Deus o ouvisse e aceitasse o seu amor violento. Mas Deus está preso no espelho. E no entanto o pastor submete os seus gritos às leis do som, e o eco nas paredes lhe denuncia o próprio amor, como se de repente as paredes fossem espelhos e os ouvidos fossem olhos. E então ele sorri porque a igreja está cheia, está cheia de homens de terno e cabelos penteados. E com os olhos fechados, porque ele está vendo com os ouvidos, como os morcegos. E assim ele consegue encher a igreja de uma única e mesma essência feita dele mesmo, porque ele encheu a igreja de amor: e pelo mesmo motivo porque as águas enchem os rios, porque só o amor é real.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Quando Nietzsche chorou


Só sei que, se Nietzsche estivesse vivo, ele estaria puto, afinal ele odiava o São Paulo! Basta dar uma lida no Anticristo pra ver. Bah... isso é o que dá não entender de futebol.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

CANÇÃO DO AMOR IMPOSSÍVEL

Como não te perderia
se te amei perdidamente
se em teus lábios eu sorvia
néctar quando sorrias
se quando estavas presente
era eu que não me achava
e quando tu não estavas
eu também ficava ausente
se eras minha fantasia
elevada a poesia
se nasceste em meu poente
como não te perderia

Antonio Cicero