Diante do meu suicídio virtual, quer dizer, quando excluí esses dias minha conta do orkut, ainda que por motivos quase técnicos (spams), entrei numa discussão com um amigo sobre isso e gostei muito do seu último e-mail:
"fala ae rapá,sim,acho q entendo,li agora tua
crônica a este respeito;a internet veio como um circo de egotismo e paranóia,nada impede que brinquemos nisso aqui,que sejamos egotistas e paranóicos,pois somos;olhar-se no espelho e a melhor ou pior coisa,cair de cara nele como narcisos afoitos é ainda uma incidencia mais comum e necessária,;quando entrei no showkurt,busquei manter apenas contato com algumas pessoas de Ctba e talvz do RJ,colecionar clips(diversão de bebado entediado) e tambem quis saber o q havia ficado p.trás,colegas,inimigos,amigos,ver o como todos dançam nessa,encontrei o perfil de um amigo,o qual depois decobri q estava morto,foi à ele quem dediquei aqule poema entitulado'
kadish'pois o cara era judeu,ele se preocupou antes de se suicidar em caprichar o perfil,como dissesse"Não me esqueçam ou Amo a todos vcs"a questão aí é a velha necessidade de integração e de se reconhecer pessoa,tudo isso recheado e sustentado num tipo de anonimia pós moderna,onde se tem nome e realidade,porem,continua-se anônimo,tem o nome,um perfil,uma face,um povoamento,acha q tem fãs e comunidades,mas,se falta pele,tudo isso é mera esquizofrenia,heterônimos vazios;sempre digo que falta a nossa época é pele,estamos com os ossos demais expostos,quase esfarinhados..."
Com isso, não pude deixar de me remeter ao monólogo "A Queda" de Albert Camus:
"Confesso-lhe o meu cansaço. Perco o fio dos meus relatos, já não possuo aquela clareza de espírito à qual os meus amigos se compraziam em prestar homenagem. Digo amigos, aliás, por princípio. Não tenho mais amigos, só tenho cúmplices. Em compensação, o seu número aumentou, são o gênero humano. (...) Como sei que não tenho amigos? É muito simples: eu o descobri no dia em que pensei em matar-me para lhes pregar uma boa peça, para puni-los, de certa forma. (...) No que me diz respeito, já consigo ouvi-los: 'matou-se porque não pôde suportar que...' Ah! caro amigo, como os homens são pobres de inventiva! Julgam sempre que nos suicidamos por uma razão. Mas podemos muito bem suicidar-nos por duas razões. Não, isso não lhes entra na cabeça. (...) Uma vez morto, eles se aproveitarão disso para atribuir ao gesto motivos idiotas ou vulgares. (...) Olhe, depois de tudo que lhe contei, que acha que me aconteceu? Nojo de mim mesmo? Ora!, convenhamos, era sobretudo dos outros que estava enojado. (...) Meu caro amigo, não demos pretexto para nos julgarem, por pouco que seja! Caso contrário, nos deixam em pedaços. (...) Compreendi isso num relance, no dia em que me ocorreu a suspeita de que, talvez, eu não fosse tão digno de admiração. A partir de então, passei a ser desconfiado. (...) Sentia-me vulnerável e entregue à acusação pública. (...) A partir do momento em que temi que houvesse em mim qualquer coisa a ser julgada, compreendi, em suma, que havia neles uma vocação irresistível para julgar. (...) Eis o que nenhum homem consegue suportar. A única defesa está na maldade. As pessoas apressam-se, então, a julgar, para elas próprias não serem julgadas..."