sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Eu indico o síndico
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
domingo, 25 de novembro de 2007
Ainda não cheguei no começo:
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Uma história de amor
- Finalmente, Fofão – a mulher explode – finalmente você provou que me ama!
O homem resmunga alguma coisa entre as grandes maçãs do rosto. O silêncio brilha nos olhos dos passageiros.
- Eu acredito – a mulher ataca novamente – eu acredito que você me ama, Fofão. Não: eu sei que você me ama. – diz com voz embargada de choro. Em seguida ri ou soluça. O homem recebe o abraço sem outra expressão que a de torpor.
“Que me traga fé, traga fé...” – soa baixo e dissonante a voz no ônibus.
- Se você não me queresse, Fofão, eu ficava com o agiota, cheio de dinheiro, um carrão. Hi hi hic hiiiiii ôôôôô Fofão... Eu não quero ele não, quero você que é pobre, não é outro que eu quero, tudo nós lá em casa, minhas filha quer você, a Jéssica, a Roberta... Quê, Fofão? Quê? Aaaaaah! Nós é nós. (Pausa) Que nós, Fofão? Que nós?! Eu!!! Eu, Suzane! Diretoria!
O homem hesita, emenda a primeira sílaba na última, diz coisas ininteligíveis e de atropelo.
- Fala, Fofão, pode falar: quero ficar com a Suzane o resto da vida, vai.
Silêncio.
- Onde cê comprou isso, Fofão?
- Lá... no Aradalupe. Hic.
Pai e filha passam a catraca, a menininha tomando milk-shake de canudinho. Suzane dispara, histérica:
- Que fofa que fofa que fofa que fofa que fofa.
A menina, acostumada, agradece e sorri, o pai lança um olhar sério a Suzane, mas esta continua com ódio:
- Que fofa que fofa que fofa.
Pai e filha vão se sentar no fundo.
- Viu só, Fofão? Ah cala a boca! Também olha o diabo que tá do meu lado! Olha o demônio que tá comigo, é o homem que eu amo esse diabo, é o meu homem esse demônio. “Valeu a pena êh êh, valeu a pena ôh ôh”, é do Corinthians – diz cuspindo – é do timão, hehe. Eô! Eô! – grita. – Eu te amo, fofão, te amo, não vou ficar com o agiota.
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Patch Adams está vivo
"Tentei me matar, porque as pessoas não ligavam umas para as outras. Racistas? Há racistas, talvez sempre haja, mas porque os não-racistas não faziam nada? Eu não conseguia entender, fui para o sanatório duas vezes, aí pensei: não vou me matar, vou fazer revolução."
"Fui para a biblioteca estudar os homens que tinham feito as revoluções (OOOHH GHANDHI), descobri que não eram pessoas especiais, eram pessoas comuns que não se contentavam com o que viam. E o que todos eles tinham em comum? Tenho 38 livros de Neruda em minha biblioteca. De que Neruda fala? De que Paulo Freire fala? O... Augusto Boal?"
"A idéia de crítica se afastou tanto da idéia de pensamento, que temos de reiterar 'pensamento crítico' OOH!!!"
"Você me perguntou sobre pensamento positivo: para mim, PENSAR é positivo, não pensar é negativo."
etc. etc.
sábado, 3 de novembro de 2007
Carta de amor ao meu inimigo mais próximo
espero-te entre os dois postes acesos entre os dois apagados naquela rua onde chove ininterruptamente há tempo; procuro tua mão descarnada e beijo-a, o seu pêlo roça os meus lábios sujeitados a todos os palimpsestos egípcios; cruzas o mesmo vôo fixado num velho espaço onde as aves descoram e o vento seca retorcido pelo grave ecoar das quedas capilares; apalpo o teu cotovelo entediado, amor, teu cotovelo roído pelo mesmo ar onde os olhares se endurecem pela cicatrização das referências ambíguas, pela recuperação das audácias, pelas onomatopéias das essências; amor!, vens, cada sono, com tuas quatrocentas asas e apenas um pé, pousas na balaustrada que se ergue, como uma pirâmide ou um frango perfeito, do meu ombro à minha orelha direita, e cantas:
ei, ei, grato é o pernilongo aos
corredores desfeitos
ei, ei Ramsés, Ramsés brinca com
chatos seculares
bem, quero que me encontres esta noite na Lagoa Rodrigo de Freitas, no momento exato em que os novos peixes conheçam a água como não conheces jamais o ar nem nada, nada. Iremos, os dois, como um gafanhoto e um garfo de prata, fazer o percurso que nasce e morre de cada pé a cada marca, na terra vermelha dos delitos, queridinho!