sábado, 29 de setembro de 2007

Dejavu

"A vida dói(...)
como um galo no Ártico"


Sim, estamos sozinhos
Apesar de ter amigos
Estamos sós
Como quem acaba de nascer
Como o cantor de jazz
Como o planeta Terra
Tão sós
Quanto aqueles que encontraram Deus
Como quem dá o lugar no ônibus
Como o pastor triste que prega
Como os carros que buzinam
E a estátua viva que se retira
Sozinhos
Como a luz do poste se acende
E o funcionário sério boceja
Como o eletricista de uniforme
E os namorados que se abraçam
Sim, sozinhos
Como o cão comido de sarna
Como um crucifixo na biblioteca
Como o homem que conta piadas
Como quem prepara uma surpresa
***
Ah! tão sozinhos somos
Como uma tv que ficou sem som
Como o padre na sacristia
Como a secretária que sorri
E que fica mais bela se triste
Como uma cadeira de palha
E o homem de paletó que olha as horas
Sós, como quem gabarita uma prova
Como mulheres dentro das lojas
Como os que encontraram Jesus
E foram salvos do fogo do Inferno
Como a informante da telemensagem
Como o entregador de pizza
E a mãe cujos filhos todos cresceram
Sozinhos como quem faz aniversário
Como quem faz um gol
Como folga em dia útil
Como quem faz um poema


Otávio

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Sprite tem uma coisa pra te dizer:

"O modo como uma moça aceita e executa o seu date obrigatório, o tom da voz ao telefone e na situação mais familiar, a escolha das palavras na conversação, e toda a vida íntima ordenada segundo os conceitos da psicanálise vulgarizada, documenta a tentativa de fazer de si um aparelho adaptado ao sucesso, correspondendo, até nos movimentos instintivos, ao modelo oferecido pela indústria cultural".

(Adorno e Horkheimer - O iluminismo como mistificação das massas)

domingo, 23 de setembro de 2007

sábado, 22 de setembro de 2007

sobre isso aqui do lado e a cidade em volta

vi os marcadores no blog do antonio cicero e fiquei com inveja, e daí?
Bem que essa poderia ser uma comunidade no orkut.
Mas, mudando de antonio cicero para Cristóvão Tezza, aqui vai um "você sabia que"
Segundo minha irmã, Curitiba é uma das cidades com maiores estatísticas de depressão entre os jovens, e diz-que isso tem a ver com o temperamento do curitibano, o mesmo daquelas piadas tipo: O que o curitibano faz quando pega a mulher com outro? Nada, porque ele não fala com estranhos. E onde que o Tezza entra nisso tudo? Há uma crônica dele que questiona: "Quem é esse que sem mais nem menos lhe pede informação na rua? Não é daqui, senão ia sozinho." Vale ler lá, fala do dalton, dos invasores catarinas e nordestinos e sobretudo da nossa ARROGÂNCIA, camaradas.

domingo, 16 de setembro de 2007

A importância de sermos Dorian Gray

"Não gosto tanto de mim a ponto de gostar das coisas que gosto"
(Clarice)
Tenho algo a dizer, se não estiver com pressa: o orkut é um site de relacionamento, não é? De relacionamento consigo mesmo. Abrimos para ver a NOSSA foto ali do lado, para atualizar o NOSSO perfil, etc., como diria o Chico, "uma penca de documentos pra finalmente eu me identificar". Se der tempo, a gente responde um recadinho ali, escreve outro acolá, parabeniza os aniversariantes, e depois voltamos a ver a NOSSA cara estampada no perfil. Fotos cheias de sorrisos, denunciando a mais pura e verdadeira felicidade dessas doces criaturas virtuais, que falam num tatibitate próprio e que têm personalidade, basta olhar as suas comunidades, incisivas e categóricas, e daí? Vai encarar? Pega eu, maluco. Você não tem orkut, não tem alma. Minha alma é azulzinha (salve, Djavan), e se divide em gostos musicais, livros lidos, filmes etc. Religião: INTERNAUTA. Sim, parabéns para nós, nós temos alma, nós somos felizes de verdade, mesmo quando confessamos nossa tristeza. Mesmo que sejamos sozinhos. Orkut, orkut meu, existe alguém com o perfil mais bonitinho do que o meu? Nós somos uns FOFOS. Somos enfim imortais. Por mais que o corpo padeça e que um dia morramos, permaneceremos pelos séculos amém, enquanto houver world wide web. Expressamos toda nossa liberdade de comunicação, toda nossa democracia, nossa virilidade, nossa popularidade, nossa intelectualidade e, o que é melhor, falamos em inglês, vai um scrap de queijo aí?

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

domingo, 2 de setembro de 2007

Deus-lobo é encontrado vivo

"Nunca diga: isto é natural" - Bertold Brecht


O ateísmo não só é algo natural, em minha opinião, como talvez uma das coisas mais naturais do ser-humano, ao contrário do que reza a tradição que, como Montaigne e Pascal, afirma: ateísmo é uma concepção monstruosa e anti-natural. Monstruosa pode até ser, pois lança o mundo ao seu relativismo intrínseco, ao seu pode-tudo. Por isso Voltaire afirma (no dicionário filosófico) que, do ponto de vista político, o ateísmo é inviável. E Dürkheim (segundo Rubem Alves em "O que é religião") que a religião é a base da sociedade. Como se o ateu fosse necessariamente mau, como se a idéia de bem só existisse na idéia de Deus.
Monstruoso ou não, não vem ao caso agora, mas anti-natural!? O que leva um homem a crer em Deus senão o fato de seus pais o crerem? Nada mais artificial do que Deus. Se tivéssemos que descobrir Deus por nós mesmos, será que seria assim tão fácil, tão natural? OK. Tomemos o racional do homem como o natural. Se alguém, que não tenha pais crentes, recebe a versão do Gênesis e a versão de Darwin. Qual convence mais? A Bíblia trata de Deus como se Ele já existisse. Ora, Cervantes também trata de Dom Quixote como se este existisse. O que a Bíblia faz é dizer QUEM ou O QUE é Deus (bom, sábio etc.) e não QUE ele é, isto é, que Ele existe. Disso se ocuparam Santo Anselmo e Descartes, entre outros. A própria palavra Javé (aquele que é) é uma petição de princípio.
Os ateus, por sua vez, também caem na aporia de partir do pressuposto de que Deus não existe, como Marx e Nietzsche fizeram. Portanto a filosofia não é menos artificial que a religião. Cabe, então, deixar o artificial de lado e debruçar-se sobre a mãe natureza.
Não podemos dizer que o homem, ao contrário dos animais, é NATURALMENTE levado a ter religião. Mas sim que o homem NATURALMENTE prevê, ao contrário dos animais, a sua morte. o animal não sabe que vai morrer, o homem sabe. Esta é a diferença. A partir desta diferença é que o homem crê ou não crê em vida após a morte. Logo, também se poderia dizer que o homem é NATURALMENTE ateu. Ao nascer numa sociedade em que todos acreditam em Deus, um homem é levado (não naturalmente) a também acreditar. Porém num mundo civilizado só é possível pensar o homem natural retrospectivamente, a partir de uma linha histórica, em que essa natureza é moldada. Numa sociedade primitiva, a falta de explicações gerou mitos (genêsis). Com o tempo, a ciência (Darwin) tomou o lugar do mito. Numa visão positivista, então, o homem seria "naturalmente" LEVADO ao ateísmo. Mas, afinal, o que se entende por "natural"? Um homem que nasce fora da civilização, criado por animais e, sem deixar descendentes, morre sem se civilizar? Ou a espécie que, a partir de um macho e uma fêmea primitivos iria gradativamente se civilizando? Tarzan ou Lagoa Azul? Tal pergunta significa: a História está contida na natureza do homem ou é algo que aconteceu por acaso? Em outras palavras: se o homem fosse extinto da Terra e nascesse outra vez (do macaco ou de Deus, não importa), a História seria a mesma? Tudo indica que não, pois o homem é livre. Porém esta liberdade mesma não o levaria, de um modo ou de outro, para o mesmo fim? O Nazismo é necessário à História? A luz elétrica e o carro poderiam NUNCA ser inventados nesta outra civilização? Talvez levassem mais tempo, ou menos, para ser inventados, se é que seriam.
Voltando para a única civilização que se conhece, um homem qualquer, que tenha morrido em 1315, está ainda no céu, numa história paralela? O que ele faz lá? Como fazer planos na eternidade, tipo: daqui 20 anos eu caso, dali 20 me aposento e dali mais 20 morro? Como seria fazer planos para sempre, não acabariam? Como viver, sem planos, uma felicidade que não é mais preciso buscar? A imortalidade da alma é análoga à imortalidade da matéria, na qual nada se perde, tudo se transforma. Não são eternas as menores partículas de que o corpo do homem é feito? Eternas porém brutas. Uma alma que vivesse para sempre não se embruteceria? Sua vida não perderia o sentido diante da eternidade que o condena a existir para sempre? Que tipo de felicidade é esta, estática e conformada? Estar vivo não é precisamente saber da morte futura? Ignorá-lo é NÃO o saber, como os animais. Se a morte é uma pergunta e a religião uma resposta, o que nos torna homens: o fato de criarmos uma resposta ou o fato de trazermos uma pergunta na alma?
Otávio