Durante a queda, esqueci o porquê de ter pulado do décimo quinto andar da previdência social. Eu estava desempregado? Estava. Há milhões de desempregados pelo país a fora, mas só eu estava caindo. Falhara em conquistar o amor de Hilda? Falhara. Há milhões de malsucedidos no amor, mas só eu caía. Por mais que me esforçasse, não conseguia lembrar por que eu pulara. Apelei para os céus:
- Por queeeeeeeeê?
A queda transformou meu apelo em um horrendo grito. A
pergunta e a angústia, portanto, continuavam, como eu, no ar, por muito pouco. Porque
o tempo nos impõe mais limites que o desespero, a falta de dinheiro ou o
desejo. E na queda, como na vida, o tempo se esgota antes da resposta. (Walther Moreira Santos. Em: Geração Zero Zero. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2011.)
*Conto transcrito do programa Leitura Viva, com Flávio Stein, da rádio lumen fm.